segunda-feira, 3 de setembro de 2012

‘Racismo é perverso’, diz a primeira doutora quilombola do Brasil

Edimara Gonçalves Soares diz que acesso à educação para crianças quilomobolas é repleto de obstáculos,
alguns intransponíveis (Foto: Bibiana Dionísio/ G1 PR)


A primeira doutora quilombola do Brasil acaba de tirar o título, na área de Educação, na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Edimara Gonçalves Soares, professora da rede estadual de ensino, defendeu a tese “Educação escolar quilombola: quando a política pública diferenciada é indiferente” na terça-feira (28). Formada em Geografia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, Edimara Soares nasceu e viveu até os 15 anos em uma comunidade quilombola, criada pelos bisavós dela, em Formigueiro, a 68 quilômetros de Santa Maria. A comunidade não tem nome e é formada por aproximadamente 60 famílias, que vivem do que plantam e criam.

 
Sempre crítica à escolarização dos remanescentes de quilombos, que são comunidades mais afastadas criadas por escravos que fugiram dos senhores de engenho, na época do Brasil Colonial, os sentimentos da nova doutora se confundem. “Eu tenho orgulho, sim. Mas é um orgulho que me faz refletir sobre o quanto a desigualdade, o preconceito, o racismo institucional são fenômenos perversos e que não são reconhecidos, dado o mito da democracia racial. Nós vivemos em um país da diversidade racial, que nós somos todos iguais… Só que nessas diversidades, as desigualdades não são reconhecidas, são dissolvidas”, refletiu Edimara Soares.
“A desigualdade, o preconceito, o racismo institucional são fenômenos perversos e que não são reconhecidos, dado o mito da democracia racial”
Para a professora, o título tem valor simbólico e concreto para o grupo que ela pertence. “O fato de escrever uma tese sobre a educação escolar quilombola, a partir de alguém que é quilombola, que é sujeito desta história, tem um significado singular de representação. Não é um estrangeiro dizendo como que é um quilombola, o que ele tem que fazer, como ele deveria ser. Não é o sujeito de fora narrando os nativos. É alguém de dentro do grupo que conta a sua própria trajetória e ao contar essa história, conta também a trajetória de muitos estudantes de muitas pessoas quilombolas”, explicou entusiasmada.
 
Edimara acredita que a dificuldade que ela teve que enfrentar para ter acesso à escola é a mesma vivida pelas atuais crianças que vivem em quilombos. Ela lembrou que precisava acordar às 4h30, caminhava em torno de uma hora até o ponto onde pegava o ônibus.

Ela contou ainda que, em casa, precisava colher bambu e fazer uma fogueira para iluminar livros e cadernos. “A gente não tinha luz elétrica, eu estudava com fogo de chão. Não podia ficar gastando vela ou querosene dos lampiões, porque a gente não tinha também dinheiro para comprar. Toda a trajetória de estudo é marcada por muita luta, muito sacrifício, por muita garra e determinação”. Ela confessou que nas Exatas não ia muito bem e por isso precisava estudar mais. Por outro lado, nas Humanas “era tranquilo”. Foi com a ajuda de uma família de Santa Maria que conseguiu completar o Ensino Médio e ingressar na universidade.
Edimara recordou que foi uma visita do colégio onde estudava à feira de cursos da UFSM que a fez decidir que queria entrar na universidade.  “No segundo ano do Ensino Médio eu tinha um norte. Queria entrar ali”.

Casa onde Edimara Soares nasceu e viveu até os 15 anos, no quilombo "sem nome" em Formigueiro (RS) (Foto: Arquivo pessoal)

Depois de desenvolver uma tese de doutorado, Edimara lamenta ao perceber que os obstáculos são praticamente os mesmos. “A minha história, quanto estudante negra quilombola, é semelhante e, em certas situações, idêntica à história de muitas crianças quilombolas que estão em fase escolar”, afirmou.

Segundo Edimara, as dificuldades são quase intransponíveis. “Às vezes não tem um número significativo [de alunos] para manter a escola, daí esta escola é fechada e essas crianças são enviadas para outro estabelecimento de ensino, distante da comunidade”, exemplificou. Para a professora, isso mostra que as nossas crianças quilombolas, até hoje, não tiveram ainda acesso a educação da forma que lhes é de direito. Ela pontuou ainda que normalmente essas crianças têm um período para estudar, porque chega um momento que deixam de ir ao colégio para trabalhar, para sobreviver.
 
Este e outros acontecimentos da rotina escolar das comunidades quilombolas do estado foram abordados e analisados na tese de Edimara, sob orientação da professora doutora Tânia Maria Baibich.
Ainda que o Paraná tenha sido pioneiro na aplicação de medidas específicas para este público, com o Departamento de Diversidade e o Núcleo de Educação das Relações Etnicorraciais e Afrodescendência (NEREA), ambos da Secretaria Estadual de Educação, a ação foi “inócua a despeito de todo o investimento e esforço que foi feito”.

Isso significa, como explicou a professora, que não se atingiu plenamente os objetivos inerentes à lei federal de 2003 que tornou obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira. Havia também o intuito de que os professores articulassem os conhecimentos tradicionais das comunidades quilombolas com o currículo escolar. “Esse é o princípio fundante da educação escolar quilombola”, destacou.

No estado, existem 42 escolas que atendem comunidades quilombolas, divididas em 11 municípios. Contudo, para que a lei fosse de fato cumprida, de acordo com Edimara, tópicos essenciais não foram considerados.

“Faltou uma articulação, efetiva, com as universidades, com as instituições formadoras. Faltou uma parceria com as comunidades quilombolas e também houve uma ausência de ações pedagógicas, de maneira sistemática e permanente, com os professores, no interior destas escolas. As ações foram pontuais, não foram ações sistemáticas”, explicou.  Para ela também faltaram investimentos em infraestrutura e em aspectos administrativos, inclusive, recursos financeiros. “É a fartura da falta. Faltam muitas coisas na dimensão de infraestrutura”, complementou.

“Ninguém ensina, o que não sabe. (…) somos produtos de uma educação eurocêntrica, de um currículo monocultural”

Edimara reforçou que a universidade não prepara os acadêmicos, futuros professores, para trabalhar questões etnicorraciais e de diversidade. A doutora é clara ao dizer que os docentes não podem ser culpados pela falha na aplicação da proposta da Secretaria de Educação.
“Ninguém ensina, o que não sabe. Eles, nós não tivemos acesso a esses conhecimentos na formação inicial, enquanto professores, porque somos produtos de uma educação eurocêntrica, de um currículo monocultural, e não foram dadas as condições necessárias”.

Para que se vislumbre um cenário mais adequado na educação quilombola, Edimara sugere a resolução das problemáticas identificadas e a necessidade de se reconhecer que existe o racismo. “Eu preciso reconhecer a existência deste fenômeno, criar mecanismo para combatê-lo, porque ele está presente de forma muito contundente nas escolas dentro das comunidades quilombolas e nas escolas fora”, assegurou. Ela cita ainda aumento de verbas para aquisição de material e para formação dos docentes.

“Não é algo que vai ser de hoje para amanhã, demanda todo um esforço, uma vontade política e de investimento financeiro”, destacou.

As ações afirmativas

Edimara se diz favorável à lei sancionada na quarta-feira (29) pela presidente Dilma Rousseff que determina o sistema de cotas sociais nas universidades federais. De acordo com a lei, metade das vagas oferecidas é de ampla concorrência, já a outra metade será reservada por critério de cor, rede de ensino e renda familiar. As universidades terão quatro anos para se adaptarem. Atualmente, não existe cota social em 27 das 59 universidades federais. Além disso, apenas 25 delas possuem reserva de vagas ou sistema de bonificação para estudantes negros, pardos e indígenas.
 
“O fato de eu ser a primeira doutora quilombola do país mostra o quanto nosso país precisa investir no combate às desigualdades sociais. Ainda existe um abismo, principalmente, nas questões relacionadas a educação, ainda que os governos estadual e federal venham investindo em políticas afirmativas e inclusivas”, afirmou.

Edimara acrescentou que esta desigualdade é histórica e acumulada, desde 1888 quando foi abolida a escravidão no Brasil. “A liberdade veio, porém, sem medidas para integrar a população negra, sem que possibilitasse acesso social e educacional”, disse Edimara. Na avaliação dela, as cotas vêm para promover a igualdade de oportunidade.

“O objetivo maior da política afirmativa é combater e, possivelmente, eliminar o lastro de desigualdades sociais. Se tu fores fazer uma radiografia das pessoas que hoje estão nos cursos de mais prestigio na universidade, como Medicina, Arquitetura, Engenharia, Direito, dificilmente tu vais encontrar, na mesma proporção, negros e brancos”, argumentou.


http://g1.globo.com/parana/noticia/2012/09/racismo-e-perverso-diz-primeira-doutora-quilombola-do-brasil.html


sábado, 1 de setembro de 2012

Angola encerra campanha eleitoral com MPLA como favorito


José Eduardo dos Santos, presidente de Angola: praticamente reeleito
 
Luanda – Angola encerra nesta quarta-feira sua campanha para a eleição geral desta sexta-feira, a segunda no país desde o fim da guerra civil, em 2002, com o partido governamental Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA) como favorito.
 
O presidente do país, José Eduardo dos Santos, encerrou a campanha do MPLA em um grande evento realizado ao lado do estádio Onze de Novembro, em Angola, no qual defendeu que seu grupo político ”é o partido da verdade, do presente e do futuro”.
 
”Não escondemos as dificuldades que o país vive. Somos realistas e pragmáticos. O MPLA estuda os problemas, identifica os caminhos para resolvê-los e explica ao povo”. disse Santos, que está na presidência angolana desde 1979.
”Existe os que prometem muito. Prometer é fácil, sobretudo quando não se conhece as responsabilidades do Estado”, disse o líder em referência aos partidos opositores.
 
Isaias Samakuva, líder do principal partido da oposição, a União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita), defendeu eleições transparentes no ato de encerramento da campanha de seu partido, em Huambo.
 
Nesta quinta-feira será realizada uma jornada de reflexão em Angola, por isso qualquer ato de campanha está proibido. Na sexta-feira, 9,7 milhões de angolanos estão convocados para votar e escolher os 220 deputados da Assembleia Nacional. As eleições serão acompanhadas por 88 observadores estrangeiros.
 
Os mais votados da lista do partido vencedor serão nomeados presidente e vice-presidente do país. Há apenas uma década, a ex-colônia portuguesa pôs fim a um conflito armado que durou 27 anos e colocou em campos opostos o MPLA e a Unita.
 
As eleições de sexta-feira serão as terceiras realizadas em Angola desde sua independência, em 1975.
Fonte: – http://feedproxy.google.com/~r/ExameMundo/~3/pmcrbnDdhOc/angola-encerra-campanha-eleitoral-com-mpla-como-favorito

sábado, 25 de agosto de 2012

Destrinchando o massacre de Marikana

Sul-africanos estão horrorizados com um violento incidente de 16 de agosto 2012, que lembra os dias mais sombrios do passado do país do apartheid: a morte por policiais armados de cerca de trinta e quatro mineiros (o número exato ainda não foi confirmado) em uma mina de platina de propriedade da gigante britânica Lonmin, empresa localizada perto de Rustenberg, no norte do país. Os ministros do governo e figuras do alto escalão do partido Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês) estão expressando simultaneamente perplexidade, choque e indignação com o que se tornou conhecido como o “massacre de Marikana”. O discurso recorrente é que a tarefa agora é entender o que está por trás da tragédia, e que é muito cedo para “apontar dedos” aos culpados. O presidente Jacob Zuma, por sua vez, prometeu a nomeação de uma comissão de inquérito com um escopo amplo.
 
Há, em suma, uma mistura de perplexidade, surpresa e remorso entre a elite dominante. Mas por que a surpresa? O aviso estava dado aos poderosos há muito tempo, mesmo que fosse indecifrável para aqueles que não tivessem vontade de enxergá-lo. Na verdade, o massacre de Marikana era uma tragédia iminente. Quando a comissão de inquérito vier para escrever seu relatório, – apesar de ser muito improvável alocar qualquer responsabilidade antes da eleição da liderança do ANC em Mangaung (Bloemfontein) em dezembro de 2012 – pode escolher destrinchar as causas do massacre de Marikana em quatro fatores.
 
Os sindicatos
 
A rivalidade entre a União Nacional dos Mineiros (NUM na sigla em inglês, National Union of Mineworkers), maior afiliada do Congresso de Sindicatos Sul-africanos (Cosatu) alinhada ao ANC, e o Sindicato da Associação da Mineração e Construção (AMCU na sigla em inglês, Association of Mining and Construction Union) estão entre os motivos mais externos do massacre de 16 de agosto. O AMCU originalmente se separou do NUM em 1998, mas vem ganhando destaque apenas nos últimos dois ou três anos – nomeadamente nas minas da Implats e da Lonmin no emergente cinto de platina em Rustenburg, na Província do Noroeste, próxima do norte de Joanesburgo.
 
O AMCU tem crescido à custa do NUM, embora o NUM tenha destituído seu rival seguindo o desejo dos patrões de minar a paz entre os dois. A Lonmin diz que informou o NUM em março de 2012 que os membros do sindicato entre os trabalhadores da empresa tinham caído para menos de 51%. Isto significou que, em termos de acordo de reconhecimento entre a empresa e NUM, o último teve seis meses para restaurar seu nível de adesão, sob a pena de novos acordos de negociação acabarem. O resultado imediato foi uma campanha de recrutamento agressiva do NUM, que foi recebida com uma resposta igualmente agressiva do AMCU (que provavelmente alcançou um nível de adesão de cerca de 20%, principalmente entre perfuradores).
 
A competição que se seguiu tornou-se cada vez mais violenta, com ambos NUM e Lonmin alegando serem vítimas. O primeiro de forças desonestas que procuram dividir a unidade do movimento dos trabalhadores, a última de uma disputa intersindical, alegando ser impotente para impedi-la. A comissão de inquérito trabalhará para acompanhar os detalhes, mas quando se trata de analisar a dinâmica da rivalidade, quase certamente apontará para um crescente abismo entre os trabalhadores das minas e os funcionários sindicais.
 
O NUM em si está desconfortavelmente ciente disso. Desde 1994 encomendou cinco inquéritos quinquenais de como seus membros veem o sindicato e de como ele aborda as suas necessidades. Recentemente, tem-se falado em fazer essa pesquisa uma vez a cada dois anos.
 
A crítica padrão da direita à Cosatu é a de que ela está se tornando o veículo de uma camada privilegiada de trabalhadores formalmente empregados entre um mar de empregados informais e desempregados. Isto é, sem dúvida, injusto, até porque os níveis salariais médios para os trabalhadores, mesmo os formalmente empregados, permanecem tristemente baixos, e os salários precisam chegar aos lares mergulhados na pobreza extrema. No entanto, pode-se argumentar que há uma dimensão de classe cada vez maior para as políticas internas da COSATU, da qual o NUM não é imune – notadamente o uso do gabinete do sindicato para fins de mobilidade ascendente pessoal, e não como um projeto para lutar pelas batalhas da classe operária.
 
Na verdade, no pós-apartheid da África do Sul, a dispensa de relações industriais dada a sindicalistas levou as lutas dos trabalhadores do chão de fábrica e das minas para as salas de reuniões, assim como os próprios sindicatos estabeleceram e fizeram crescer empresas de investimento que, embora formalmente separadas, oferecem perspectivas de oportunidade, enriquecimento e lucro. Sem surpresa, o AMCU expressa o descontentamento, raiva e frustração de alguns dos que sentem que estão sendo deixados para trás e ignorados pelos empregadores, pelo governo, pelo ANC e também pelo movimento sindical estabelecido. Não admira que as demandas do AMCU sejam por aumento de três vezes o salário atual mais um mês de férias e direito a um padrão de vida decente.
 
A polícia
 
O segundo fator para a tragédia de Marikana está no estilo de policiamento preocupantemente, similar ao do Apartheid. Imagens do massacre de Marikana na televisão mostraram policiais armados, alguns deles em uniformes camuflados, confrontando os trabalhadores do AMCU que estavam protestando. Sim, os trabalhadores estavam portando tocos de madeira, facas e outras coisas. Também não é improvável, como a polícia afirma, que alguns deles estivessem armados com pistolas e pudessem até mesmo ter começado a batalha que teve consequências tão desastrosas.
 
Mas é tudo tão previsível. O policiamento pós-apartheid foi feito para fugir dos velhos tempos, quando a polícia patrulhava os municípios em conflito e a maioria negra era o inimigo. Mesmo agora, há muita hipocrisia em torno de noções reconfortantes como “policiamento comunitário” e “servir o público”. E, certamente, é difícil lá fora, com a própria polícia sofrendo muitas mortes violentas, bem como recebendo remunerações desmoralizantemente baixas. No entanto, ao lado de alguns progressos em termos de modos mais aceitáveis de policiamento, há sinais preocupantes de regressão.
 
A prisão de um esquadrão policial em KwaZulu-Natal que tinha feito justiça com suas próprias mãos é um exemplo; a alta incidência de mortes em detenções policiais (embora menos do que sob o apartheid) é outra. Mas Marikana resgata a mudança para a militarização do policiamento, prefigurado por eventos em 2010 (um chamado pelo antigo ministro adjunto de polícia Fikile Mabalula para a transformação da polícia em uma força paramilitar, seguido pelo retorno a um sistema de patentes semelhante ao militar). Mesmo antes disso, a controvérsia irrompeu em torno de declarações do então policial superior Bheki Cele, que foram amplamente interpretadas como endossar uma política de “atirar para matar” da polícia. Cele refuta vigorosamente essa leitura de seus comentários, mas mesmo assim eles parecem apontar para uma posição mais dura, um estilo de policiamento “sem brincadeiras” no qual a preparação para recorrer à violência para enfrentar o crime tornou-se cada vez mais aceitável.
 
Em Marikana, a polícia reivindica que os mineiros grevistas atiraram primeiro. Eles podem estar certos, mas muitas questões ainda se seguiram, nomeadamente o uso de munição real, em tão aparente desproporção. Talvez, como em Sharpeville, em 1960, a polícia tenha entrado em pânico (há histórias de ordens erradas sendo dadas). Mas qualquer que seja o caso, o nível de abate foi imperdoável. Alguns dias antes de Marikana, foi relatado que o número de protestos na África do Sul entre 1º de janeiro e 31 de julho de 2012 já ultrapassou o número mais alto registrado para um único ano desde 2004. Cada vez mais, ao que parece, a polícia da África do Sul está sendo trazida para confrontos com uma revolta cada vez maior dos pobres. Marikana foi apenas mais um episódio.
 
Os políticos
 
Um terceiro fator é a falha dos políticos em assumir a responsabilidade. A disputa na Lonmin (anteriormente Lonhro) foi retumbante por meses. Cerca de uma semana antes do massacre, a administração aumentou a segurança e chamou a polícia. Posteriormente, dois policiais foram agredidos até a morte, aparentemente por simpatizantes do AMCU. Mais policiais foram para a região. Após 10 mortes, policiais mais experientes vieram, mas ainda assim os políticos ficaram longe. Enquanto o tempo passava, funcionários seniores da AMCU foram chamados para atender os trabalhadores em greve, que estavam reunidos em uma colina próxima, enquanto os próprios trabalhadores demandavam falar com a gerência sênior. Enquanto a administração não aparecia, os trabalhadores foram ficando cada vez mais irritados e a cena estava pronta para, em 16 de agosto, a polícia decidir desarmar o grupo. Os policiais portavam armas de “gerenciamento de multidões” e balas de borracha, mas também estavam armados com munição real.
 
Enquanto isso, os ministros do governo que poderiam ter se envolvido para acalmar uma disputa que estava visivelmente ficando fora do controle optaram por se afastar e ver a crise como um simples assunto sindical. Talvez fosse politicamente perigoso se aventurar no território da Cosatu, adotar uma posição neutra entre o AMCU e o NUM. Quando, antes da tragédia, a Câmara de Minas havia tentado juntar os dois sindicatos para negociações, o NUM havia se recusado a se reunir com o AMCU. Quando, tardiamente, a ministra de Minas, Susan Shabangu, procurou reunir as diferentes partes, seu departamento supostamente omitiu o convite ao AMCU, alegando que não o reconhecem como um sindicato legítimo.
 
Tardiamente, após o massacre, os ministros estão ansiosos para serem vistos tomando decisões – com o ministro da polícia, Nathi Mthethwa, agora lançado no meio do problema. A crise também está acentuando um abismo político crucial. O contraste entre o estilo das visitas à Marikana do Presidente Zuma e de seu discípulo-agora-inimigo Julius Malema foi simbólico. Zuma estava numa conferência em Harare quando o massacre ocorreu. Talvez ele não pudesse chegar à Marikana mais cedo, mas quando o fez, foi no tardar da noite. Reuniu-se com a gerência e visitou os feridos no hospital. Sua principal resposta foi a nomeação da comissão de inquérito – uma ação sensata, porém burocrática, e que provavelmente não apaziguará os trabalhadores em greve.
 
Já Malema, – expulso do ANC em março de 2012 após longos procedimentos disciplinares partidários, que muitos acreditam terem sido impulsionados por sua campanha contra Zuma, – dirigiu de sua casa, em Polokwane, sem qualquer autoridade formal, recusou a proteção oferecida pela polícia, e foi desarmado e sem escolta em um grande campo aberto, onde os mineiros em greve estavam esperando por ele. Lá, ele protestou contra Zuma (“ele não se preocupa com os mineiros, ele veio aqui ontem à noite e reuniu-se com os brancos” [isto é, a gerência] … Ele foi falar com as pessoas brancas, não com vocês. Não foram os brancos britânicos que foram mortos, foram vocês”).
 
Malema protestou contra a polícia, protestou contra Cyril Ramaphosa (antigo secretário-geral do NUM e agora rico homem de negócios, que se aliou ao presidente da comissão disciplinar que expulsou do ANC), e protestou contra o NUM (“quando os trabalhadores têm problemas, o NUM os vende”).
 
A intervenção de Malema ainda pode se provar importante. Quando ele foi expulso do ANC (e, aparentemente, o fisco foi enviado atrás dele para consultar seus altamente duvidosos assuntos financeiros), parecia para muitos que ele tinha sido derrotado, que Zuma vencera. Agora, isso não é tão claro. Vamos esquecer que as políticas populistas de Malema ameaçam levar a África do Sul na direção do Zimbábue de Robert Mugabe: provavelmente nenhum outro político na África do Sul poderia ter caminhado naquele campo desarmado e ter saído vivo – certamente não os membros do Partido Comunista da África do Sul, que estão alinhados à Zuma e trabalhando arduamente para reelegê-lo.
 
Até agora, o vice-presidente Kgalema Motlanthe do ANC (outro antigo ex-secretário-geral do NUM) tem sido reticente sobre disputar as eleições para a presidência do ANC contra Zuma em Mangaung. Mas com Zuma rapidamente perdendo seu fascínio (e muitos diriam o seu controle sobre o governo), e com Malema ameaçando minar a base de apoio do ANC entre os pobres, pode ser que Motlanthe seja cada vez mais pressionado a ficar para a festa promovida por aqueles que – com razão – começaram a se preocupar com a longevidade do ANC.
 
Os empregadores
 
No cerne dos problemas em Marikana estão o legado e o desempenho atual da indústria de mineração. A economia da África do Sul foi, notoriamente, construída sobre a superexploração do trabalho do imigrante vindo de territórios vizinhos e dos bantustões [ pseudoestados de base tribal criados pelo regime do apartheid na África do Sul, de forma a manter os negros fora dos bairros e terras brancas]. Aos poucos, a partir de 1970, as coisas mudaram. Por razões econômicas e políticas, a mão-de-obra estrangeira foi em grande parte eliminada (ou, no caso do Lesotho, rodeado pela África do Sul, fortemente reduzida). Isto pressagiou uma nova paisagem mineira, que ganhou força a partir de 1994. Suas principais características têm sido uma queda maciça na mineração de ouro, a ascensão da platina ao lado de outros minerais, e o fechamento dos conjugados nos quais trabalhadores migrantes eram enclausurados à força.
 
Hoje, cada vez mais, as minas tiram as suas forças de trabalho das comunidades locais, e nelas, aqueles que ainda mantêm ligações com os antigos bantustões residem em quintais e barracos. Entretanto, como as minas se tornaram cada vez mais intensivas em capital, a proporção da força de trabalho que é permanentemente empregada diminui, e numerosos mineiros são agora casualmente empregados ou fornecidos por empresas contratantes.
 
Ninguém deve lamentar o fim dos conjugados. Entretanto, isso tem permitido a externalização de muitos dos custos sociais de cuidar de trabalhadores – de alimentação e habitação à saneamento. O ônus recai sobre as comunidades locais, já sobrecarregadas, no mesmo momento em que o governo local na África do Sul está entrando em colapso.
 
Muitas vezes supõe-se que esta é uma época na qual as atitudes e práticas das empresas de mineração estão se tornando mais esclarecidas; na verdade, todas as grandes mineradoras são signatárias de uma “carta de mineração” que promete maravilhas. Mas um relatório da Bench Marks Foundation, coincidentemente lançado pouco antes do massacre, relata uma enorme discrepância entre as promessas das mineradoras e suas práticas. Ele também destaca (entre outros) a falta de instalações educacionais e de treinamento, poluição ambiental, e uma total ausência de preocupação com as condições sociais dos trabalhadores.
 
No caso da Lonmin, 9.000 trabalhadores foram demitidos em 2011, e os que perderam seus empregos enquanto participavam do programa de habitação da empresa foram, ao mesmo tempo, privados de suas casas. A gestão da empresa não está imune à especulação de que não se preocupa entre os conflitos do AMCU e do NUM, já que é melhor enfrentar apenas um deles do que uma força de trabalho unida por um único sindicato determinado a buscar melhores condições aos trabalhadores.
 
O massacre em Marikana coincidiu com um momento em que muitos sul-africanos têm se sentido cada vez mais inquietos, que temem que a promessa de 1994 desapareceu e que o país perdeu o rumo. Com alguma esperança, ele servirá para sacudir a consciência nacional, envergonhando aqueles que afirmam que a única maneira de atrair o investimento estrangeiro é reduzindo o custo, e repensar as condições de trabalho. Mas não contem com isso: por enquanto, possivelmente, a tragédia pode comprometer a presidência Zuma, mas outros choques ainda podem ser necessários antes que o governo e os empregadores se juntem para um combate sério à pobreza e à desigualdade.
 
Roger Southall
Publicado no site OpenDemocracy, traduzido pelo Canal Ibase
 
Tradução: Isis Reis

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Mulheres negras brasileiras de destaque na política



Dados do IBGE apontam que existem, no Brasil, cerca de 97 milhões de pessoas negras. Segundo um estudo realizado pela União dos Negros pela Igualdade (Unegro) em parceria com a Universidade Federal de Ouro Preto (MG) os negros tem baixa representatividade no Parlamento. O estudo revelou que apenas 0,0001% dos negros brasileiros exercem mandatos nas principais casas legislativas. A pesquisa foi realizada no Congresso Nacional, nas 27 assembleias legislativas do País (incluindo o Distrito Federal) além das câmaras municipais de todas as capitais.

Atualmente, a Câmara dos deputados é composta por 9% de parlamentares negros, ou seja, 44 dos 513 deputados federais. Já nas Assembleias Legislativas de todo o Brasil, foram constatadas a presença de 46 deputados, alguns estados não possuem parlamentares afrodescendentes. A falta de representatividade também atinge as câmaras municipais, principalmente das capitais do país.

No caso das mulheres negras a diferença é ainda mais acentuada, elas não ocupam na mesma proporção os espaços institucionais da vida política nacional. Mesmo com essa falta de representatividade de Mulheres Negras nas principais casas legislativas! Abaixo segue uma lista de 13 mulheres negras brasileiras em destaque na política:

Antonieta de Barros



Nascida em 11 de julho de 1901, Antonieta de Barros foi a primeira mulher a integrar a Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Educadora e jornalista atuante, teve que romper muitas barreiras para conquistar espaços que, em seu tempo, eram inusitados para as mulheres – e mais ainda para uma mulher negra.

Deu início às atividades como jornalista na década de 1920, criando e dirigindo em Florianópolis, onde nasceu, o jornal A Semana, mantido até 1927. Na mesma década, dirigiu o periódico Vida Ilhoa, na mesma cidade. Como educadora, fundou o Curso Antonieta de Barros, que dirigiu até a sua morte, em 1952, além de ter lecionado em outros três colégios.
Manteve intercâmbio com a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino e, na primeira eleição em que as mulheres brasileiras puderam votar e receberem votos, filiou-se ao Partido Liberal Catarinense, que a elegeu deputada estadual.
Tornou-se, desse modo, a primeira mulher negra a assumir um mandato popular no Brasil, trabalhando em defesa dos diretos da mulher catarinense.


Theodosina Rosário Ribeiro


Theodosina Rosário Ribeiro foi à primeira deputada negra da Assembléia Legislativa de São Paulo. Nasceu em 29 de maio de 1930 na cidade de Barretos (SP). Quarenta anos depois, em 1970, a maior cidade da América Latina a elege como primeira vereadora negra da Câmara Municipal de São Paulo. E, em 1974, a primeira deputada negra da Assembléia Legislativa do Estado, onde ocupou também o cargo de vice-presidente.

Theodosina formou-se filósofa, pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da universidade de Mogi das Cruzes, e advogada, pela FMU – Faculdades Metropolitanas Unidas. Na vida pública, teve quatro candidaturas vitoriosas - uma como vereadora e três como deputada estadual.

Ela se tornou uma referência e estímulo para negras e negros. Depois dela, outras mulheres negras se engajaram na vida pública.


Benedita da Silva


Benedita Sousa da Silva Sampaio, nasceu em 1942 no cidade do Rio de Janeiro, e viveu, durante 57 anos, no Morro do Chapéu Mangueira no Leme. Formada no curso de Serviço Social, iniciou sua carreira política ao se eleger vereadora do Rio de Janeiro em 1982, após militância na Associação de Favelas do Estado do Rio de Janeiro. Em 1986, foi eleita deputada federal, e se reelegeu para este cargo em 1990. Na Legislatura de 1987-1991, Benedita participou da Assembleia Nacional Constituinte, onde atuou como titular da Subcomissão dos Negros, das Populações Indígenas e Minorias. Em seguida, passou à Comissão de Ordem Social e da Comissão dos Direitos e Garantias do Homem e da Mulher. Em 1992, foi candidata do PT a prefeitura do Rio de Janeiro. Em 1994, elegeu-se senadora, tornando-se a primeira mulher negra a ocupar uma vaga no Senado. Foi eleita vice-governadora do Rio de Janeiro em 1998 na chapa de Anthony Garotinho. Para assumir o cargo, renunciou ao mandato de Senadora, que só terminaria em 2002. Com a renúncia de Anthony Garotinho para concorrer à Presidência da República em abril de 2002, assumiu o governo do estado do Rio de Janeiro.

Em 2001, presidiu a Conferência Nacional de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, que reuniu mais de dez mil pessoas de todo país, entre lideranças de ONGs e governos.
Com a eleição de Lula para a Presidência da República, assumiu a Secretaria Especial da Assistência e Promoção Social, com status ministerial.

Assumiu em janeiro de 2007, a Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos, no Governo Sérgio Cabral Filho. Foi em 2010 eleita deputada federal pelo Rio de Janeiro.


Marina Silva


Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima, nasceu no Rio Branco em 8 de fevereiro de 1958, é uma ambientalista, historiadora, pedagoga e política brasileira. Foi senadora pelo estado do Acre durante 16 anos. Atualmente, está sem partido.

Foi Ministra do Meio Ambiente no Governo Lula do seu início (2003) até 13 de maio de 2008. Também foi candidata à Presidência da República em 2010 pelo Partido Verde (PV), obtendo a terceira colocação entre nove candidatos, com 19,33% da porcentagem total - expressivos 19.636.359 votos válidos em todo o território nacional.

"Também sou negra, mas seria muito pretensioso da minha parte me apresentar como similar ao Obama". Marina Silva, em entrevista durante a campanha para presidente.


Janete Pietá


Janete Rocha Pietá, nasceu no Rio de Janeiro em 3 de novembro de 1946, é uma política brasileira. Formou-se em História pela Faculdade de Filosofia Ciências Santa Úrsula, em 1971. Ainda no Rio de Janeiro, trabalhou como professora, até mudar-se para Belo Horizonte, em 1972, onde prosseguiu em seu ofício até 1974.

Chegou a Guarulhos em 1974. Foi metalúrgica até 2001. Participou das lutas sindicais e atuou nos movimentos de moradia. Janete Pietá foi a primeira mulher a se formar pelo SENAI, em 1977. Licenciou-se em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Guarulhos, em 1993.

Eleita deputada federal em 2006 pelo Partido dos Trabalhadores de São Paulo, com 116.865 votos, foi à única representante mulher entre os 14 eleitos pelo PT do estado de São Paulo e a primeira parlamentar afro-descendente eleita pelo PT paulista para a Câmara dos Deputados.


Jurema Batista


Jurema Batista começou a carreira política como presidente da Associação de Moradores do Andaraí, em 1979. E formada em português e literatura pela Universidade Santa Úrsula, participou da criação do Partido dos Trabalhadores, Rio de Janeiro, no início da década de 80. Foi eleita três vezes vereadora pelo PT, a primeira em 1992. Em 2002, foi eleita deputada estadual. Durante seu mandato na Assembléia Legislativa, presidiu a Comissão de Combate à Discriminação de Etnia, Religião e Procedência Nacional. Em 2005 foi uma das 1000 mulheres do mundo indicadas para ganhar o Nobel da Paz. Em 2007 foi convidada para presidir a Fundação para a Infância e Juventude (FIA) do governo do estado.

Atualmente exerce o cargo de Gerente de Segurança Alimentar na Secretaria de Assistência Social, da qual é funcionária de carreira. É membro do Movimento Negro Unificado, onde exerce o cargo de coordenadora de formação política.
Entre seus projetos mais importantes: o que torna gratuito para famílias pobres o teste de DNA, realizado pela Uerj; o projeto de lei que cria o Dia de Lembrança do Holocausto; o que mantém a Feira de Tradições Nordestinas em São Cristóvão; e o projeto Rio Charme que permitiu a permanência do baile charme no Viaduto de Madureira. É autora da lei que garante 40% de negros na propaganda oficial do município, bem como, autora do Diploma Zumbi dos Palmares na ALERJ e do disque Discriminação na mesma casa de Lei.

Leci Brandão


Leci Brandão da Silva, nasceu no Rio de Janeiro, 12 de setembro de 1944, é uma cantora, compositora brasileira e umas das mais importantes intérpretes de samba da música popular brasileira. Começou sua carreira no início da década de 1970, tornando-se a primeira mulher a participar da ala de compositores da Mangueira. Ao longo de sua carreira, gravou 20 álbuns e três compactos. Participou do Festival MPB-Shell promovido pela Rede Globo, em 1980, com a música Essa tal criatura. Em 1985, gravou Isso é fundo de quintal. Em 1995 foi a intérprete do samba-enredo da Acadêmicos de Santa Cruz durante o carnaval. Atuou na telenovela Xica da Silva da TV Manchete, como Severina.

Atualmente, além de se dedicar à carreira musical, é membro do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial e do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Desde 2003 também vem exercendo a função de comentarista dos desfiles de escolas de samba do Grupo Especial de São Paulo, pela Rede Globo.

Em fevereiro de 2010, Leci Brandão filiou-se ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e candidatou-se ao cargo de Deputada Estadual pelo estado de São Paulo, tendo sido eleita. Sua defesa dá ênfase à negros, igualdade racial, combate ao racismo e a inclusão do samba na política cultural do Estado de São Paulo, entre outras propostas. No carnaval 2012, foi homenageada pela escola de samba Acadêmicos do Tatuapé.


Olívia Santana



Maria Olívia Santana, nasceu em Salvador no dia 25 de março de 1967, na comunidade do Alto de Ondina. é uma política brasileira, educadora e militante do movimento de mulheres negras brasileira. Começou a fazer política no movimento estudantil, mas conquistou posição de destaque na luta contra a discriminação racial. É dirigente da União de Negros pela Igualdade (Unegro) e foi secretária de Educação e Cultura do Município. Marcou sua gestão com ações como a implantação da matrícula informatizada e do estudo da cultura afro-brasileira. foi secretária Municipal de Educação de Salvador, atualmente como vereadora (PC do B) e integra o Fórum das Mulheres Negras e o Conselho de Promoção da Igualdade Racial. E Dirigente Nacional do PCdoB (Partido Comunista do Brasil) e Presidente da Comissão de Reparação da Câmara Municipal de Salvador.

Desde que assumiu uma cadeira no Legislativo, em 2003, defende o tombamento da Feira de São Joaquim como patrimônio cultural da Bahia e do Brasil. Defende a educação como a principal fonte de transformação social.
Candidatou-se à Câmara Federal em 2006, conquistando 37.803 votos. Em 2008, renovou seu mandato no legislativo municipal. Neste mandato – Olívia Santana foi eleita Ouvidora-geral da Câmara para o biênio 2011-2012. Além de ser membro das comissões de Finanças, Orçamento e Fiscalização e de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara Municipal de Salvador, a Edil é ex-presidente da Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Lazer.

Claudete Alves


Claudete Alves, formada em Pedagogia com Especialização em Administração Escolar, Mestranda em Ciências Sociais pela PUC/SP. Uma negra em movimento. Militante e ativista do movimento sindical na área do serviço público. Articulou a criação do Instituto Todos a Bordo, organização não governamental que busca combater toda forma de discriminação. Filiada ao Partido dos Trabalhadores, desde 1983. Nos anos 80, participou ativamente do Movimento de Luta por Creches no Município de São Paulo, já tendo um histórico de atuação também no Movimento Negro.

Fevereiro de 2003 assume o Legislativo Municipal de São Paulo, tendo como principais áreas de atuação o combate à discriminação racial, defesa dos direitos da mulher, criança e adolescente e a luta pela oferta de um serviço público de qualidade, com ênfase na Educação e Saúde. Autora da lei 13.707/03 que instituiu o 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, como feriado na cidade de São Paulo.

Claudete Alves é idealizadora e proponente junto ao Ministério Público Federal, da Representação que requereu o ajuizamento de uma Ação Civil Pública contra o Estado Brasileiro, pleiteando indenização pelos danos causados a todos os DNAEB (Descendentes de Negros Africanos Escravizados no Brasil) que residem na cidade de São Paulo.
Atualmente Claudete Alves é presidente do SEDIN – Sindicato da Educação Infantil.


Rosangela Gomes


Deputada Rosangela Gomes, nascida na cidade de Nova Iguaçu no estado do Rio de Janeiro. É graduada em Direito, Pós-graduada em Políticas Públicas no ano de 2007 pela IUPERJ (Instituto Universitário de Pesquisas do Estado do Rio de Janeiro) e em Direito Público em 2008 pela Universidade Cândido Mendes. Rosangela cumpre agora seu primeiro mandato estadual, pelo Partido Republicano Brasileiro, após ser eleita pela terceira vez como vereadora em Nova Iguaçu. Em 2004 foi reeleita como a vereadora mais votada da Baixada Fluminense com 6.262 votos. No ano de 2000 marcou a eleição como a única mulher a eleger-se no município de Nova Iguaçu, quando obteve 5108 votos. Para atender a convocação do seu partido Rosangela Gomes concorreu ao Senado da República Federal em 2006, surpreendendo o cenário político atingindo a marca de 262.132 votos.

Em seu último mandato como vereadora, Rosangela presidiu a Comissão de Defesa do Direito do Consumidor e a Comissão de Combate a Desigualdade Racial, fundada por ela. Rosangela Gomes, devido ao grande comprometimento seu partido lhe atribuiu mais um grande desafio em assumir a presidência nacional da militância do PRB Mulher, a qual vem desenvolvendo um excelente trabalho.

Hoje como deputada, preside a Comissão de Prevenção ao Uso de Drogas e Dependentes Químicos em Geral, além de ser membro das Comissões de Combate às Discriminações e Preconceitos de Raça, Cor, Etnia, Religião, Defesa dos Direitos da Mulher, Saneamento Ambiental e Segurança Alimentar e também como relatora da Comissão Especial para Tratar da Deficiência do Abastecimento de Água na Baixada Fluminense.


Rosário Bezerra


Maria do Rosário de Fátima Bezerra Rodrigues nasceu na cidade de União - PI. É bacharel em Ciências Econômicas e Mestre em Educação pela Universidade Federal do Piauí. Como mulher negra, mãe, irmã, filha e sonhadora, estabeleceram sua militância política em movimentos sociais (mulheres, negros, coisa de nego), de igreja (juventude operária católica - JOC) e na fundação do Partido dos Trabalhadores no Piauí. Durante três anos, foi assessora parlamentar da Câmara dos Deputados em Brasília . É membro do Núcleo de Pesquisa sobre Africanidades e Afrodescendência Ifaradá, da UFPI.

Exerceu a função de diretora da Escola de Governo do Estado do Piauí e Ouvidora Geral do Governo na gestão de Wellington Dias. É servidora pública da Fundação Cepro(Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais do Piauí) de onde licenciou-se para exercer o Parlamento. Eleita vereadora em 2008 como a mais votada do seu partido. Como parlamentar, tem honrado os votos recebidos pelos teresinenses, procurando através de uma atuação marcante na Câmara, nas comunidades, nas diversas esferas do poder atender os pleitos daqueles que mais precisam.

Tem trabalhado para fortalecer os segmentos: mulheres, negros e a saúde da população. É autora da lei 4034 de 20 de agosto de 2010, a Lei Antifumo de Teresina; Criou a frente parlamentar pela livre expressão sexual, entre outras ações.

Cristina Almeida


Cristina Almeida é Bacharel em Administração de Empresas. Desde 1990 é funcionária do quadro efetivo da Assembleia Legislativa do Amapá. Iniciou sua militância no movimento estudantil como membro do Centro Acadêmico de Administração da Faculdade Integrada do Colégio Moderno- FICOM. É militante do Movimento de mulheres e do Movimento Negro, iniciando na União dos Negros do Amapá – UNA e hoje sócia fundadora do IMENA- Instituto de Mulheres Negras do Amapá. Participa ativamente do grupo de Marabaixo da Comunidade de Campina Grande. É Membro da Executiva Estadual do PSB e Secretaria Nacional da Negritude Socialista Brasileira.

Cristina Almeida foi a primeira mulher eleita vereadora do Município de Macapá, e em 2010 eleita como deputada estadual. Cristina leva como bandeira de luta o combate ao preconceito, discriminação e todas as formas correlatas de intolerância, defensora na batalha pela inclusão de políticas públicas para as mulheres, bem como os negros e homossexuais, possui o Jornal Informativo Impresso que mensalmente apresenta todos os resultados do seu mandato circulando nos quatro cantos da cidade de Macapá. O projeto Gabinete Itinerante Compromisso e Participação, visita semanalmente os bairros de Macapá e nos finais de semana desenvolve ações na zona rural, colhendo reivindicações da população, valendo ressaltar que em 2009 realizou inúmeras reuniões, conseguindo intervir com mais de 1.000 requerimentos a Prefeitura Municipal de Macapá, conseguindo resultados e persistindo pelo crescimento da igualdade social da população amapaense.
 

Outro grande projeto da vereadora é o “Capacitando para gerar renda”, onde mulheres de diversos bairros de Macapá e da zona rural recebem cursos de capacitação, cujo objetivo é o aumentar a renda de suas famílias.


Fátima Santiago


Fátima Santiago é formada em Ginecologia e Obstetrícia e pós-graduada em medicina do trabalho. Há vinte anos iniciou o trabalho de prevenção do câncer de colo uterino nas comunidades carentes do estado, quando ainda era acadêmica de medicina. Prestou concurso e foi aprovada como professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e Escola de Ciências Médicas.

Na área política, no ano de 2000, recebeu excelente votação, sendo a primeira suplente de sua coligação, o que a fez ingressar como vereadora em 2002. Já em 2004, tornou-se a única mulher eleita vereadora em Maceió. Idealizou e inaugurou dois institutos de atendimento gratuito; um no bairro Dubeaux Leão e outro no Eustáquio Gomes.

Atualmente, Fátima Santiago é a vice-presidente da Câmara Municipal de Maceió. Já para o biênio 2011/2012, a vereadora é a 2° vice-presidente, sendo a única mulher na composição desta Mesa Diretora. Como vereadora, se destaca pela sua atuação nas Comissões Parlamentares, que são importantes espaços de decisão política onde é definido o destino da população maceioense.

Referências:
http://www.palmares.gov.br/?page_id=8258
http://primeirosnegros.blogspot.com.br/2009/08/n1-na-politica-pauli…
http://pt.wikipedia.org/wiki/Benedita_da_Silva
http://pt.wikipedia.org/wiki/Marina_Silva
http://pt.wikipedia.org/wiki/Janete_Rocha_Piet%C3%A1
http://www.oliviasantana.org.br/Biogragia.asp
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ol%C3%ADvia_Santana
http://angolaconectada.blogspot.com.br/2011/12/livro-negros-o-brasi…
http://www.lpp-buenosaires.net/olped/acoesafirmativas/boletim_ppcor…
http://rosariobezerra.blogspot.com.br
http://pt.wikipedia.org/wiki/Leci_Brand%C3%A3o
http://fatimasantiago.com/?page_id=3

Fonte: Hernani Francisco da Silva - Afrokut

terça-feira, 19 de junho de 2012

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Entrevista com filha de Malcon X

A filha de Betty


Herdeira. "Ser filha de Malcom X é fácil. Difícil foi ser filha de Betty, pobre, com outras seis irmãs". Foto: Felipe Milanez

Ser filha de Malcolm X é fácil. Difícil foi ser filha de Betty Shabazz, com outras seis irmãs, pobres, no Harlem.” Todas as vezes que encontro Malak Shabazz ela sempre prefere falar da mãe quando pergunto sobre seu pai. Nessa família de ativistas afro-americanos, não há um sem o outro. Malak é a caçula, e não chegou a conhecer Malcolm, morto quando Betty estava grávida. E como os pais, ela segue na luta por direitos humanos e justiça social. Nos últimos tempos, seu foco tem sido o feminismo. “Igualdade”, ela diz. “Equal rights.”

Na sede da National Action Network: House of Justice, o clima é triste, mas não como o do velório no dia anterior, de Gil Noble, um famoso âncora negro de tevê. Malak, metida em uma bata africana, toma o microfone: “Brother Gil era um amigo da família. Eu sei quem ia lá em casa. Muita gente diz que é amigo. Depois do filme Malcom X, de repente todo mundo era amigo. Mas no clima de ódio daquele tempo, ele sempre estava lá. E quando teve espaço na tevê, minha mãe cobrou dele para representar e defender o povo negro, o povo da diáspora africana. E ele fez. Gil também nos apoiou na luta para preservar o local onde meu pai foi assassinado, e hoje se chama The Malcolm X and Dra. Betty Shabazz Memorial and Educational Center.”

O centro fica a poucas quadras da House of Justice. No início do ano, uma bela exposição lembrava as “freedom sisters”, mulheres negras que lutaram pelos direitos civis. Agora em maio está em cartaz The Long Walk to Freedom, a longa marcha pela liberdade. Também com fotografias, gráficos e biografia de ícones do movimento pelos direitos civis.
O memorial ocupa o antigo Audubon Ballroom, local onde Malcolm X, aos 39 anos, foi assassinado na noite de 21 de fevereiro de 1965 por três integrantes da Nação do Islã. O edifício pertence à Columbia University e foi cedido em 2005 para uso da família por 99 anos, após intensa mobilização no fim dos anos 1980, quando a universidade quase derrubou o prédio.

A reforma foi bancada pela cidade de Nova York e pelo banco Chase e planejada pelo também conhecido arquiteto negro Max Bond, que estudou em Columbia. “Ainda faltam 97 anos, temos muita coisa para fazer aqui”, diz Malak, confiante. A exposição Freedom Sisters foi financiada pela Fundação Ford. Além do centro, a família dirige a Malcolm X Foundation, o X Legacy Inc., e uma série de planos de bolsas para estudantes negros, especialmente em medicina, em Columbia.

Há um belo salão de danças no segundo andar do memorial. Piso de madeira, telhado branco e um imponente mural. Malak emociona-se. Ela para no exato local do crime, próximo à janela, onde ficava o palco em que seu pai discursava. Na parede oposta, um grande mural resume a vida de Malcolm X. “Foi bem aqui que mataram ele. A minha mãe estava ali do lado, eu e minha irmã na barriga dela.” Qubilah Shabazz, segunda das irmãs, foi testemunha do crime (e acabaria presa em 1995 acusada- de encomendar a morte de Louis Farrakhan, que teria incentivado o assassinato de seu pai).


Malak é uma celebridade no Harlem e mantém viva a memória dos pais

“As pessoas falam de meu pai, mas esquecem de Betty. Ela criou seis filhas sozinha. Estudou, fez doutorado. Organizou a luta pelos direitos, foi intensa ativista. E ela nos protegeu. Só nos demos conta do ódio que havia lá fora quando fomos à universidade.”

Malak é uma celebridade no Harlem. Nas ruas, apertos de mão, acenos. Descendente de italianos, pareço deslocado – o único não afrodescendente na reunião da House of Justice. Mas a identidade brasileira abre portas. “Eu tenho lido muito sobre os quilombos, que luta incrível os nossos irmãos travam no Brasil”, afirma Gary, um radialista de voz forte durante a cerimônia. “Meu pai queria unir os povos africanos. Na África, na América, todos os negros da diáspora imposta pela escravidão”, afirma a ativista. “Minha mãe adorava a Bahia. Foi muitas vezes para lá. Acho até que ela tinha algum namorado”, sorri.

A adoção do islamismo, talvez uma forma de protesto, é sustentada pelo que Malak diz ser sua fé. Cristãos e muçulmanos eram opostos na luta nos direitos civis, inclusive dentro do movimento negro. Ela lembra a histórica divergência entre seu pai e Martin Luther King. “Se batessem nele, Luther King iria oferecer a outra face. Meu pai partiria para a briga. Ele nunca aceitou a submissão.” Suas palavras, diz ela, fortaleciam a autoestima do afro-americano para lutar por seus direitos. “Hoje estamos vivendo um retrocesso.” A militante teme pelas eleições presidenciais deste ano. “Não é fácil (re)eleger um negro neste país racista.”

A conversa logo entra no tema das cotas raciais, as ações afirmativas. “Temos de ter acesso a direitos. Vivemos como exilados. Viemos embaixo de um navio, no porão. Contra a nossa vontade.” Ela fala em “direito para vivermos e justiça social”, o “direito de existir”. Contra os argumentos popularmente apresentados no Brasil, entre eles o de que as cotas pioram o nível da educação, é direta: “Isso é ridículo. Quem acredita nisso?”

A música está em cada canto do Harlem. Malak diz não gostar de rap (“É violência, degrada as mulheres”), mas mostra simpatia pelo hip-hop (“É um modo de vida. Como o jazz, usa a arte para abrir a mente e a alma”).
“A música é uma arma”, diz Gary, parceiro de Steve Wonder no famoso disco Songs In The Key of Life, enquanto conduz a cerimônia na House of Justice. “Com a música ninguém pode nos impedir de criar, de falar. E hoje, com a web, estamos livres das gravadoras. Ninguém pode nos impedir de distribuir”, incentiva ao microfone. “Uma revolução está sendo criada pela música. Temos de usar o poder da música, que é a mais poderosa forma de comunicação.” Malak aprova. A resistência e a esperança ela herdou, em igual medida, de Malcolm e Betty.

Fonte: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/a-filha-de-betty/#.T9IUKt9kf6N.facebook

quarta-feira, 6 de junho de 2012

1º checo negro na história da Eurocopa

Alvo de racismo, lateral será 1º checo negro na história da Eurocopa


Theodor Gebre Selassie
 
A imprensa checa não tem dúvidas em afirmar qual será o atleta da equipe cheia de jogadores dos clubes locais a surpreender na Eurocopa: Theodor Gebre Selassie. Lateral direito do Liberec, 25 anos, ele a bem da verdade está acostumado a surpreender. No último ano, se tornou o primeiro negro da história da República Checa a vestir a camisa da seleção. Convocado para a Eurocopa, também será o primeiro em grandes competições internacionais.
 
Alvo de racismo, lateral será primeiro checo negro na história da Euro. Foto: AFP
Alvo de racismo, lateral será primeiro checo negro na história da Euro - Foto: AFP

Selassie é antes de mais nada alguém com história pessoal para honrar a tradição do país no torneio – foi campeão em 1976, vice em 96 e semifinalista em 60, 80 e 2004. Campeão checo com o Liberec há algumas semanas após seis anos de jejum, ele superou até o racismo de torcedores rivais para honrar o nome do pai Chamola, médico etíope, e da mãe, professora checa. Ela, na verdade, é a única não totalmente feliz com o sucesso do filho. “Queria que ele tivesse terminado a faculdade”, conta Jana.

A mãe, lá no fundo, deve estar satisfeita com a ascensão de Selassie, que há quatro anos estava na quarta divisão checa e surpreende até os próprios treinadores. “Ele foi uma surpresa muito agradável. Mostrou uma luz positiva”, definiu Michal Bílek, treinador da República Checa após sua estreia em 2011. Desde então, o crescimento tem feito o lateral direito abafar qualquer tipo de rejeição local.

Em outubro, Selassie enfrentou o que não era exatamente estranho a ele, mas nunca havia surgido de forma tão expressiva. Melhor em campo na vitória de 3 a 0 do Liberec sobre o anfitrião Sparta Praga, marcou um golaço e fechou o caixão do time mais popular do país no torneio nacional. A resposta veio das arquibancadas com racismo, imitações de macaco, e o clube de Praga seria punido. Algo que a Liga Checa já havia vivenciado anteriormente. Mas o lateral reagiu com a força mental de sempre.

“Peço desculpas por isso, mas nasci na República Checa. Vivi aqui toda minha vida e só estive uma vez na Etiópia e foi há dois anos. Há um homem negro (Barack Obama) à frente do mais poderoso país do mundo e as pessoas falam muito sobre eu jogar pela seleção checa”, reagiu orgulhoso da própria biografia. “Estou feliz porque sou diferente. Ao menos sou mais visível”, diverte-se. “Por outro lado, quando jogo mal, há uma desvantagem”.

Esse tipo de reação, assegura a mãe, pautou o filho cheio de personalidade. “A vantagem é que ele tinha o caráter tão especial que isso ajudou a ele superar qualquer reação. Uma professora dizia que Theo ria o tempo todo na escola”, conta Jana ao Guardian. A Eurocopa é a primeira grande chance de Selassie mostrar seu sorriso ao mundo.



DASSLER MARQUES - Direto de Varsóvia (Polônia) - Disponível em: http://revistaafricas.com.br/archives/87040

sábado, 19 de maio de 2012

25 de Maio: Dia da África



A Organização da Unidade Africana escolheu o dia da sua constituição, 25 de Maio de 1963 como o Dia da África, para o mundo celebrar e lembrar os africanos, medindo o progresso que este continente fazia e faz na comunidade internacional.
África! 47 Anos desde a criação, em Addis Abeba (Etiópia), da Organização de Unidade Africana (OUA), em carta assinada por 32 estados africanos já independentes na altura.
O acto constituiu-se no maior compromisso político dos líderes africanos, que visou a aceleração do fim da colonização do continente.
No dia 25 de Maio de 1963 reuniram-se 32 Chefes de Estado africanos com ideias contrárias à subordinação a que o continente estava submetido durante séculos (colonialismo, neocolonialismo e "partilha da África").
Dessa reunião, nasceu a OUA (Organização de Unidade Africana). Pela importância daquele momento, o 25 de Maio foi instituído pela ONU (Organização das Nações Unidas), em 1972, Dia da Libertação de África.
A criação da OUA traduziu a vontade dos africanos de converterem-se num corpo único, capaz de responder, de forma organizada e solidária, aos múltiplos desafios com que se defrontam para reunir as condições necessárias à construção do futuro dos filhos de África.
Como a OUA mostrou-se incapaz de resolver os conflitos surgidos continuamente em toda a parte do continente, os golpes de estado tornaram-se uma prática. Economicamente, os indicadores também estavam longe de serem animadores, concorrendo para isso a própria instabilidade militar e as múltiplas epidemias.
Assim, a 12 Julho de 2002, em Durban, o último presidente da OUA, o sul-africano Thabo Mbeki, proclamou solenemente a dissolução da organização e o nascimento da União Africana, como necessidade de se fazer face aos desafios com que o continente se defronta, perante as mudanças sociais, económicas e políticas que se operam no mundo.
Contudo, resolveu manter a comemoração do Dia de Africa a 25 de Maio, para lembrar o ponto de partida, a trajetória e o que resta para se chegar à meta de "uma África unida e forte", capaz de concretizar os sonhos de "liberdade, igualdade, justiça e dignidade" dos fundadores.
Dos 54 estados africanos, 53 são membros da nova organização: Marrocos se afastou voluntariamente em 1985, em sinal de protesto pela admissão da auto-proclamada República Árabe Saharaui, reconhecida pela OUA em 1982.
Fonte do texto: www.radioecclesia.org

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Novelas brasileiras passam imagem de país branco, critica escritora moçambicana.

A romancista moçambicana Paulina Chiziane nos traz o olhar africano sobre branquitude do Brasil

Brasília - "Temos medo do Brasil." Foi com um desabafo inesperado que a romancista moçambicana Paulina Chiziane chamou a atenção do público do seminário A Literatura Africana Contemporânea, que integra a programação da 1ª Bienal do Livro e da Leitura, em Brasília (DF). Ela se referia aos efeitos da presença, em Moçambique, de igrejas e templos brasileiros e de produtos culturais como as telenovelas que transmitem, na opinião dela, uma falsa imagem do país.
"Para nós, moçambicanos, a imagem do Brasil é a de um país branco ou, no máximo, mestiço. O único negro brasileiro bem-sucedido que reconhecemos como tal é o Pelé. Nas telenovelas, que são as responsáveis por definir a imagem que temos do Brasil, só vemos negros como carregadores ou como empregados domésticos. No topo [da representação social] estão os brancos. Esta é a imagem que o Brasil está vendendo ao mundo", criticou a autora, destacando que essas representações contribuem para perpetuar as desigualdades raciais e sociais existentes em seu país.
"De tanto ver nas novelas o branco mandando e o negro varrendo e carregando, o moçambicano passa a ver tal situação como aparentemente normal", sustenta Paulina, apontando para a mesma organização social em seu país.
A presença de igrejas brasileiras em território moçambicano também tem impactos negativos na cultura do país, na avaliação da escritora. "Quando uma ou várias igrejas chegam e nos dizem que nossa maneira de crer não é correta, que a melhor crença é a que elas trazem, isso significa destruir uma identidade cultural. Não há o respeito às crenças locais. Na cultura africana, um curandeiro é não apenas o médico tradicional, mas também o detentor de parte da história e da cultura popular", detacou Paulina, criticando os governos dos dois países que permitem a intervenção dessas instituições.

Primeira mulher a publicar um livro em Moçambique, Paulina procura fugir de estereótipos em sua obra, principalmente, os que limitam a mulher ao papel de dependente, incapaz de pensar por si só, condicionada a apenas servir.
"Gosto muito dos poetas de meu país, mas nunca encontrei na literatura que os homens escrevem o perfil de uma mulher inteira. É sempre a boca, as pernas, um único aspecto. Nunca a sabedoria infinita que provém das mulheres", disse Paulina, lembrando que, até a colonização européia, cabia às mulheres desempenhar a função narrativa e de transmitir o conhecimento.
"Antes do colonialismo, a arte e a literatura eram femininas. Cabia às mulheres contar as histórias e, assim, socializar as crianças. Com o sistema colonial e o emprego do sistema de educação imperial, os homens passam a aprender a escrever e a contar as histórias. Por isso mesmo, ainda hoje, em Moçambique, há poucas mulheres escritoras", disse Paulina.
"Mesmo independentes [a partir de 1975], passamos a escrever a partir da educação europeia que havíamos recebido, levando os estereótipos e preconceitos que nos foram transmitidos. A sabedoria africana propriamente dita, a que é conhecida pelas mulheres, continua excluída. Isso para não dizer que mais da metade da população moçambicana não fala português e poucos são os autores que escrevem em outras línguas moçambicanas", disse Paulina.
Durante a bienal, foi relançado o livro Niketche, uma história de poligamia, de autoria da escritora moçambicana.

Alex Rodrigues - Repórter da Agência Brasil


quarta-feira, 4 de abril de 2012

Martin Luther King: Eu tenho um sonho



Eu Tenho Um Sonho

28 de agosto de 1963 Washington, D.C.

Quando os arquitetos de nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e da Declaração de Indepêndencia, estavam assinando uma nota promissória de que todo norte americano seria herdeiro. Esta nota foi a promessa de que todos os homens, sim, homens negros assim como homens brancos, teriam garantidos os inalienáveis direitos à vida, liberdade e busca de felicidade.

Mas existe algo que preciso dizer à minha gente, que se encontra no cálido limiar que leva ao templo da Justiça. No processo de consecução de nosso legítimo lugar, precisamos não ser culpados de atos errados. Não procuremos satisfazer a nossa sede de liberdade bebendo na taça da amargura e do ódio. Precisamos conduzir nossa luta, para sempre, no alto plano da dignidade e da disciplina. Precisamos não permitir que nosso protesto criativo gere violência físicas. Muitas vezes, precisamos elevar-nos às majestosas alturas do encontro da força física com a força da alma; e a maravilhosa e nova combatividade que engolfou a comunidade negra não deve levar-nos à desconfiança de todas as pessoas brancas. Isto porque muitos de nosssos irmãos brancos, como está evidenciado em sua presença hoje aqui, vieram a compreender que seu destino está ligado a nosso destino. E vieram a compreender que sua liberdade está inextricavelmente unida a nossa liberdade. Não podemos caminhar sozinhos. E quando caminhamos, precisamos assumir o compromisso de que sempre iremos adiante. Não podemos voltar.

Digo-lhes hoje, meus amigos, embora nos defrontemos com as dificuldades de hoje e de amnhã, que eu ainda tenho um sonho. E um sonho profundamente enraizado no sonho norte americano.

Eu tenho um sonho de que um dia, esta nação se erguerá e viverá o verdadeiro significado de seus princípios: "Achamos que estas verdades são evidentes por elas mesmas, que todos os homens são criados iguais".

Eu tenho um sonho de que, um dia, nas rubras colinas da Geórgia, os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos senhores de escravos poderão sentar-se juntos à mesa da fraternidade.

Eu tenho um sonho de que, um dia, até mesmo o estado de Mississipi, um estado sufocado pelo calor da injustiça, será transformado num oásis de liberdade e justiça.

Eu tenho um sonho de que meus quatro filhinhos, um dia, viverão numa nação onde não serão julgados pela cor de sua pele e sim pelo conteúdo de seu caráter.

Quando deixarmos soar a liberdade, quando a deixarmos soar em cada povoação e em cada lugarejo, em cada estado e em cada cidade, poderemos acelerar o advento daquele dia em que todos os filhos de Deus, homens negros e homens brancos, judeus e cristãos, protestantes e católicos, poderão dar-se as mãos e cantar com as palavras do antigo spiritual negro: " Livres, enfim. Livres, enfim. Agradecemos a Deus, todo poderoso, somos livres, enfim.

Martin Luther King