segunda-feira, 21 de março de 2011

Americanos acham que Brasil não age contra o racismo

Há dois dias da chegada do presidente Barack Obama (foto) ao Brasil, telegramas vazados pelo siteWikiLeaks revelam que a falta de ação do Governo brasileiro contra os efeitos do racismo praticado contra os negros – mais da metade da população – faz parte da agenda e das preocupações dos EUA com o Brasil.

O Brasil é o país com maior população negra do mundo fora da África - 51,3%, segundo a última Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD), do IBGE - com mais de 95 milhões de afro-brasileiros. Para os diplomatas americanos, 50% dos brasileiros seriam considerados negros nos EUA.

Em 2008, os Governos brasileiro e americano assinaram um Plano de Ação para Promoção da Igualdade Racial (JAPER, na sigla em inglês) um acordo bilateral contra a discriminação racial, que tem como objetivo estabelecer parcerias de longo prazo para combater a desigualdade racial nas áreas da Educação, Saúde, Cultura, Justiça, Habitação, Trabalho e Desenvolvimento Econômico.

Telegramas vazados

A preocupação americana fica clara em um pacote de 25 telegramas da embaixada dos EUA, em Brasília e do consulado em S. Paulo, que abrangem o período de 2004 a 2009, em que diplomatas concluem que os brasileiros não dão a devida atenção ao assunto. “Muitos alegam que o racismo não existe, apesar das evidências esmagadoras do contrário”, diz um telegrama, revelado pelo Jornal O Globo.

"A discriminação contra afro-brasileiros mancha a reputação internacional do Brasil de país tolerante e lar acolhedor para centenas de grupos indígenas e imigrantes de todos os cantos do mundo", afirma outro.

Para diplomatas norte-americanos a vontade dos Governos brasileiros em tomar atitudes concretas em relação à discriminação racial é questionável. Eles não vêem medidas objetivas nos setores público e privado para acabar com as dificuldades sociais e econômicas pelas quais passam os negros brasileiros.

"A verdadeira questão é se os brasileiros, como um todo, estão prontos para reconhecer o problema e estão dispostos a agir", diz outro telegrama.

Declaração

O acompanhamento da questão racial no Brasil pelo Governo americano fica clara também em telegrama, agora vazado pelo WikiLeaks com a declaração da então ministra chefe da SEPPIR, Matilde Ribeiro, que, em 2007, disse não considerar racismo “quando um negro se insurge contra um branco”. De acordo com um diplomata dos EUA, a declaração ajudou a chamar a atenção para o assunto.

Outro tema que também é monitorado é o das cotas raciais nas universidades públicas. Os americanos captaram as impressões ouvidas em diversos setores da sociedade de que “a questão é controversa”.

Atualmente 108 universidades brasileiras, já dispõe de algum tipo de ação afirmativa por iniciativa de seus Conselhos Superiores. Mais da metade delas adotaram a reserva de vagas, com cotas para negros e indígenas.

As Ações Afirmativas no Governo, porém, se restringem ao Ministério das Relações Exteriores, o Itamaraty, que adota, por intermédio do Instituto Rio Branco, uma política de cotas para jovens negros interessados em seguir a carreira diplomática.

Este ano, o Supremo Tribunal Federal deverá julgar a Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta pelo Partido Democratas (DEM), que pretende seja declarada inconstitucional a política de cotas para negros e indígenas adotado pela Universidade de Brasília (UnB). Se isso acontecer todo o sistema de cotas, em todas as Universidades, será declarado inconstitucional.

Fonte: Afropress

sábado, 19 de março de 2011

Visita de Obama: Dilma sugere construção entre iguais e fim da "retórica vazia"

Em clima protocolar, hoje, 19 de março, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, chegou ao Palácio do Planalto, em Brasília, nessa que é a sua primeira visita à América Latina. Com cerca de 30 minutos de atraso, Obama cumprimentou a presidente Dilma Rousseff e seus ministros, dentre eles o ministro da fazenda Guido Mantega e
das relações exteriores, Antônio Patriota.

Obama é o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos. Em 2008, durante o processo eleitoral, ativistas negros de todo o mundo manifestaram apoio a sua candidatura que representou um marco para o mundo, sobretudo, nos EUA, um país marcado por forte violência racial, em que negros sofriam ataques de grupos extremistas e a própria lei promovia segregação formal, o que se seguiu até a década de sessenta, quando da explosão dos movimentos civis liderados por líderes como Martin Luther King e Rosa Parks.

Distante da conquista racial alcançada pelos Estados Unidos por ter um governante negro, o Brasil, que tem a população de pelo menos 45% de afrodescendentes, apresentou ao presidente Obama um Brasil diferente da realidade das ruas. A cerimônia aparentemente não contou com a presença dos ministros negros do governo Dilma, como Orlando Silva (Esporte) e Luiza Bairros (Seppir), reforçando a falta de visibilidade dos personagens negros na política nacional, o que comprova que o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer para ser de fato uma nação que respeita a diversidade racial.

Chamou à atenção também na cerimônia de chegada de Obama, as apresentações culturais exibidas à primeira-dama estadunidense, Michele Obama, como os grupos Raízes do Brasil, de capoeira, e a banda percussiva de mulheres, Batalá, desconhecidos para o público brasileiro. Esperava-se, por exemplo, grupos tradicionais da cultura negra brasileira, como, por exemplo, o grupo Olodum, Ilê Aiyê ou a banda Didá, primeira banda percussiva de mulheres do Brasil, criada pelo saudoso Neguinho do Samba, invetor do Samba-Reggae.



Foto: Roberto Stuckert Filho/Presidência da República/Divulgação
Discursos

Em discurso no Planalto, a presidente Dilma disse estar honrada em receber Obama e ressaltou o histórico momento, no qual a primeira mulher presidente do Brasil se encontra com o primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Lembrou do ex-presidente Lula, classificando-o como "um homem do povo", que proporcionou cidadania para os brasileiros, mulheres e homens que viviam à margem da sociedade.

Dilma disse, também, que Obama encontrou o país "no momento mais vibrante" e que o Brasil seria "um dos mais dinâmicos mercados do mundo". Frisou, entretanto, que ainda é preciso tratar das contradições na relação entre os dois países, como os "desequilíbrios econômicos", criticando as ações protecionistas dos EUA.

A presidente pontuou em seu discurso que, embora tardias, diante da crise econômica mundial, as reformas do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) são necessárias e importantes. Já em relação a Organização das Nações Unidas (ONU) comentou que ainda existe a possibilidade e oportunidades de antecipação nas reformas, sugerindo o interesse do Brasil em ter uma cadeira permanente no Conselho de Segurança, a mais importante instância da organização global.

Reforçando a ideia da participação brasileira no Conselho de Segurança da ONU, Dilma remeteu-se ao histórico brasileiro de diálogo e tolerância. Segundo a presidente, "o Brasil tem o compromisso com a paz, a democracia e o consenso", lembrando a relação pacífica do país com os seus vizinhos de fronteiras.
Na sequência, argumentou que no passado existia uma "retórica vazia" na relação entre o Brasil e os Estados Unidos e que espera, nesta nova fase de aproximação, "uma construção entre iguais, por mais distintos que sejam esses países".

Apesar de ressaltar o Brasil como um país multiétnico, no qual convivem distintas e ricas culturas, a presidente Dilma não citou, em seu discurso, o Plano Brasil-Estados Unidos para a Promoção da Igualdade Étnica e Racial (JAPER), acordo diplomático assinado em 2008 pelas duas nações, que prevê uma atuação conjunta dos governos nas áreas de educação, segurança, saúde, cultura e comunicação e justiça ambiental, isso no ano internacional dos afrodescendentes, criado pela ONU. Da mesma forma, no discurso de Obama não houve menção ao Plano que é considerado estratégico para a diplomacia dos Estados Unidos no Brasil. Há expectativa que na passagem de Obama pelo Rio de Janeiro o tema seja mencionado.

Obama, em seu discurso, agradeceu a presente Dilma pelo fortalecimento das alianças nas relações entre Estados Unidos e Brasil, referenciou a nação brasileira como a segunda economia das Américas, citando a criação do G-20, grupo das vinte maiores potências mundiais, o que permite um maior protagonismo do Brasil.

O presidente estadunidense falou dos acordos entre os dois países, que incluem dialógos financeiros, expansão da transferência tecnológica, enalteceu o status do Brasil no desenvolvimento de energia limpa e como o país é estratégico no fornecimento de petróleo e na transferência tecnológica dos biocombustíveis. Na área militar, enfatizou a importante parceira do Brasil no tratamento da crise do Haiti, no combate ao contrabando de armas nucleares, entre outros temas. Obama não deixou de falar sobre a crise na Líbia, que está sendo discutida pela ONU, dizendo que há urgência de se fazer cumprir os direitos humanos naquele país.

Diferentemente da visita de Obama ao Brasil, que está em destaque na mídia nacional, o principal assunto dos Estados Unidos é a crise política na Líbia. Na opinião de setores da mídia nos Estados Unidos, neste momento Obama deveria estar em solo estadunidense e direcionar todos os esforços para resolver o grave problema do país africano. Nessas análises, os Estados Unidos tem perdido espaço de liderança para países como França e Reino Unido.

Paulo Rogério e Keila Costa - Correio Nagô –
http://correionago.ning.com/profiles/blog/show?id=4512587:BlogPost:65716&xgs=1&xg_source=msg_share_post

sábado, 5 de março de 2011

Dia da Mulher Angolana

A efeméride, de particular importância, não só para as mulheres, mas também para os restantes membros da sociedade, deve-se ainda ao reconhecimento por si prestado e que, com coragem, determinação e com o preço das suas vidas, contribuíram para que Angola fosse hoje um país livre e independente.

A mulher angolana desempenhou sempre um papel de destaque no processo de libertação do país, com exemplos representativos dos feitos heróicos da rainha NJinga Mbandi, num passado longínquo, e de Deolinda Rodrigues, Irene Cohen, Engrácia dos Santos, Teresa Afonso, Lucrécia Paím e outras anónimas.



Este ano, as mulheres angolanas são exortadas a transformarem as comemorações da data numa jornada de reflexão, que permita um debate sadio e construtivo, tendo em vista a busca de soluções consensuais para os seus problemas.

Assim, considera-se imprescindível que o Estado continua a apoiar à luta pela erradicação de atitudes que contrastem com a importância do papel social da mulher ou que violem os seus direitos individuais e colectivos, criando condições para a sua protecção.

No caso vertente da República de Angola, e não obstante as conquistas alcançadas, há a consciência de que a mulher angolana continua ainda a enfrentar inúmeros problemas para a sua plena emancipação.

O alto grau de analfabetismo que grassa no seio das mulheres, a desigualdade nas oportunidades de emprego e de ascensão socio-profissional, a persistência da violência no lar, que atinge essencialmente as mulheres e os filhos, são alguns dos muitos problemas para os quais a sociedade civil deverá prestar uma atenção especial.

A data, de relevante importância para o povo angolano, comemora-se num momento em que se consolida a paz, a reconstrução nacional, se começa a dar os primeiros frutos e a sociedade caminha, de forma irreversível, para um maior equilíbrio do género em todos os níveis da estrutura social e do Estado.

A Organização da Mulher Angolana (OMA), criada em 1962 como ala feminina do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), teve uma influência crucial no apoio às forças guerrilheiras dentro e fora de Angola.

FONTE : ANGOLA PRESS