segunda-feira, 31 de agosto de 2009

África: berço da humanidade e da civilização

De acordo com os mais recentes estudos antropológicos, a África é o berço da humanidade. Foi ali que se formaram as primeiras famílias. Foi na África que os seres humanos se reuniram pela primeira vez ao redor de uma fogueira para espantar o medo. Lá o ser humano enterrou seu semelhante pela primeira vez e começou a sentir que a morte faz parte da vida. Foi da África que pouco a pouco os seres humanos começaram a se espalhar pelo resto da terra. Algumas regiões do continente africano são conhecidas mundialmente como berços de grandes civilizações: o Egito, Cartago (Tunis), Sudão (Núbia) e Etiópia (Axum).

A África, ao contrário do que alguns historiadores têm afirmado, não era formada por um “bando de negros” primitivos de uma cultura inferior. Os vários grupos étnicos espalhados pela África tinham uma cultura em muitos aspectos mais avançada que a européia.

Segundo Ki-Zerbo, pesquisador senegalês:

A África e a Ásia, atualmente na periferia do mundo tecnicamente desenvolvido, estavam na vanguarda do progresso durante os primeiros quinze mil séculos da história do mundo... a África foi o cenário principal da emergência do homem como espécie soberana na terra, assim como do aparecimento de uma sociedade política. Mas esse papel eminente na pré-história será substituído, durante o período histórico dos últimos dois milênios, por uma “lei” de desenvolvimento caracterizada pela exploração e por sua redução ao papel de utensílio.

Berço da humanidade

1) Encontrado na região do Quênia a primeiro ancestral do ser humano, o Autralopithecus afarensis

2) Esqueleto de uma mulher encontrada em 1972 por Richard Leakey, a “Lucy”, de cerca datada de 5 a 3,5 milhões de anos atrás.
Lucy
Australopithecus afarensis
3000 de anos. Encontrado na Etiópia
.


3) Encontrado em 1961, na Tanzânia, o Homo erectus ou Homo habilis, datado de 1.800.000 a 100 mil anos atrás, que já tinha cultura lítica com instrumentos rudes, como o machado de pedra. Foi ele que primeiro saiu da África, espalhando-se até a Europa e a Ásia, para onde levou sua tecnologia primária.

4) Em 1982 descoberto em Chesowanja, no Quênia, os restos de um fogo doméstico feito por africanos há 1,4 milhão de anos, contrariando a argumentação que atribuía o fogo ao chamado homem de Pequim de 500 mil anos atrás.

5) O Homo sapiens (neandertal) de 110 mil anos, teve os restos foram encontrados na Zâmbia e um outro foi encontrado no Egito em 1984, portanto há duas provas deste tipo de hominóide na África, mais antigos que o europeu datado a 80 mil anos atrás.

6) O homo sapiens sapiens é africano e teve sua origem a 130 mil anos atrás, conhecido por meio do crânio Omo I, descoberto por Richard Leakey. Fisicamente se parece com o povo twa (pigmeu) ou san (hotentote), ou seja: negro, pequeno, com feições bem africanas. Foi esse homo sapiens sapiens que primeiro se encontra povoando a Europa, mas de 40 mil anos atrás.

7) uma outra prova que demonstra a origem africana do Homo sapiens sapiens é a anterioridade da arte, descobertas por Leakey na Tanzânia, datadas de 35 mil anos, duas vezes mais antigas que a famosa pintura de Ascaux.

8) Os especialistas em evolução genética da espécie humana chegaram à conclusão de que o Homo sapiens sapiens teria surgido na África analisando os diferentes padrões genéticos da população do Planeta. Comparando as estruturas genéticas da população mundial, perceberam que somente os negros africanos possuem um padrão de DNA mais diferenciado de outros padrões analisados. A antepassada comum da humanidade teria sido uma mulher africana, subsaariana, batizada como “Eva, mãe de todos nós”. (Allan Wilson, Universidade de California em Berkeley)

Berço da civilização

1) Os conceitos tradicionais de civilização tendem a excluir a África. Segundo o New Columbia Encyclopedia , 1975: 565 civilização seria:

Aquele complexo de elementos culturais que primeiro aparecem na história humana entre oito mil e seis mil anos atrás. Nessa época, baseada na agricultura, na criação de gado e na metalurgia, começou a aparecer a especialização ocupacional extensiva nos vales dos rios do Sudoeste Asiático (Tigre e Eufrates). Apareceu lá também a escrita, cem como agregações humanas densas que acomodavam administradores, comerciantes e outros especialistas.

2) Contrariando os estudos anteriores está cada vez mais comprovada a evolução no Continente africano dos elementos citados: agricultura, criação de gado, metalurgia, especialização ocupacional, vejamos:

Na África a humanidade foi palco da primeira revolução tecnológica de sua história: a passagem da existência como caçador e coletor de frutos silvestres para a prática da agricultura. Foi comprovada pelo Dr. Fred Wendorf a existência da prática da agricultura no vale do rio Nilo 17.500 ou 18 mil anos atrás, dias vezes mais antigas do que na região do Sudoeste Asiático. Há 7 mil anos os africanos cultivavam no Saara, antes de virar deserto, vários grãos e legumes e nesta época no vale do Niger cultivavam mais de 25 espécies.

A criação de gado, traço definidor da civilização, também aparece na África a mais ou menos 15 mil anos atrás, em Lukenya Hill, Nairóbi (Quênia). Segundo o Dr. Charles Nelson, esta sociedade responsável pela domesticação de aminais tinha elevado grau de sofisticação e poderia muito bem ter se espalhado até os vales dos rios Tigre e Eufrates.

Surgimento da escrita nas regiões do Saara e do Sudão, com a criação dos sistemas de escrita dos akan e dos mandingas. Está provado também que as escritas meroítica e egípcia originaram-se no sul do Sudão.

O EGITO AFRICANO: FONTE DA CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL

A decifração da pedra Rosetta comprovou que praticamente todo o conhecimento científico, religioso e filosófico da Grécia antiga teve origem no Egito, ou seja, na própria África.

Lembrei me da notável passagem de Heródoto: “E quanto a mim julgo serem os colchianos uma colônia dos egípcios porque, iguais a estes, são negros de cabelo lanudo”. Em outras palavras, os egípcios antigos eram verdadeiros negros do mesmo tipo que todos os nativos africanos. (...) Pensem só que essa raça de negros, hoje nosso escravos e objeto de nosso desprezo, é a própria raça a quem devemos nossas artes, ciências e até mesmo o uso da palavra! (Conde Constantino Volney, membro da Academia Francesa, 1787: 74-7).

A cultura e a ciência egípcia foram as pedras fundamentais de toda a civilização ocidental (ver texto A origem da filosofia grega). A astronomia egípcia era tão avançada que desde 4.200 a.C foi responsável por um calendário mais exato que o nosso. Na arquitetura, engenharia e matemática, as pirâmides ainda comprovam a alta tecnologia africana de 3 mil anos atrás. Os papiros de Moscou e Ahmes mostram o desenvolvimento da matemática abstrata desde 13 séculos antes de Euclides.

O verdadeiro fundador da medicina foi Athothis, filho de Menés, primeiro faraó do Egito unificado, por volta de 3.200 a.C, ou então o sábio Imhotep, que em torno de 2.980 a.C realiza famosas pesquisas médicas. Papiros de Smith (1.650 a.C) e Ebers (2.600 a.C) registram o legado desses médicos africanos, mostrando profundo conhecimento de quase todas as áreas da medicina moderna.

Os sistemas teológicos e filosóficos gregos também se originaram no Egito, onde vários filósofos gregos, como Sócrates, Platão, Thales, Anaxágoras e Aristóteles, estudaram com sábios africanos.

Na Bíblia o Egito aparece como o povo Ham, negro e irmão de Cush, o etíope. O egípcios se auto definiam como KMT ou KEMET, o que quer dizer “cidade negra” ou “comunidade negra”. Nas esculturas os africanos se retratavam claramente como negros.

Em Qustul, na antiga Núbia, ao sul do Egito, pesquisa comprovou a existência de um Reino chamado TA-SETI, antecedendo pro treze gerações a unificação do Egito em 3.200 a.C., essa cultura já trazia na sua cerâmica as imagens de Osíris, Ísis e Hórus as marcas simbólicas da filosofia religiosa e da estrutura de Estado do Egito.

O povo desde reino chamava-se ANU-SETI, o que significa “povo negro do reino Seti”. (Willians, The lost pharahos of Núbia, in Van Sertina, 1985 a: 29-43). O vocábulo ANU adquire importância central no processo das civilizações africanas no mundo antigo.

Estudando a origem dos egípcios, CHEIKH Anta Diop (do Senegal) sublinha a prepodenrancia do elemento negro na população egípcia, não se devendo aceitar que o elemento negro se infiltrou no Egito em período tardio. Pelo contrário, os fatos provam que o elemento negro era preponderante do princípio ao fim da história egípcia.
Para o historiador escosês Randall MacIver (século XIX), o que há de mais característico da cultura pré-dinastica do Egito se deve ao intercâmbio com o interior da África e à influência imediata daquele elemento negro permanente que esta presente na população meridional do Egito desde os tempos mais remotos até os nossos dias.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

A origem africana da filosofia



A tese da origem egípcia da Filosofia, das ciências e da arte em geral é confirmada pelos próprios autores gregos, sejam eles historiadores ou filósofos, alguns dos quais nunca fizeram mistério em volta das suas fontes e do lugar de sua formação filosófica. Cheikh Anta Diop, o fundador da egiptologia africana, foi sem duvida quem dedicou maior parte do seu tempo a essa questão histórica e filosófica fundamental e sua pesquisa foi continuada pelo seu discípulo Théophile Obenga. Obenga, na sua recente obra O Egito, a Grécia e a Escola de Alexandria, demonstrou, para além da origem egípcia da filosofia grega e, portanto, falando dela como um pensamento intercultural, trata também de maneira exaustiva a questão da estada por parte de muitos filósofos e homens de ciência grega no Egito, onde foram instruídos pelos sacerdotes dos Templos da Vida nas diversas escolas do Pensamento filosófico egípcio-faraônico. Trata-se de Tales, Sólon, Platão e, sobretudo, Pitágoras que, segundo os historiadores, estudou cerca de 23 anos no Egito.

Obenga demonstrou ainda a influência do pensamento egípcio nas reflexões de muitos filósofos e pensadores do mundo grego, tais como Anaximandro, Anaxímenes, Aristóteles, Demócrito, Empédocles, Anaxágora, Heráclito, Xenófones de Colofon e tantos outros. Crantor, primeiro crítico de Platão, narrava que os contemporânea de Platão riam dele por ter copiado sua República das instituições egípcias. Poder-se-ia também citar Aristóteles que, alem de discípulo de Platão, estudou com Eudosso de Cnido, o qual, por sua vez passou seis meses estudando Matemática e Astronomia com os sacerdotes egípcios. As descobertas egípcias não se restringiam somente aos números ou aos astros, mas formularam hoje aquilo que se tornou uma das conquistas mais significativas da humanidade, ou seja, o método científico chamado tep-hesed (o método correto e as regras para estudar a natureza).
Esse método do tep-heseb no Egito faraônico se tornou logos (razão) na antiga Grécia, razão teorética (teórica), discursiva e experimental na Europa depois de Galileu Galilei e, com Descartes, a lógica das ideias claras e distintas. O Egito faraônico foi ainda o precursor de muitas idéias que os gregos desenvolveram, como, por exemplo, a imortalidade da alma.
 

Imhotep (2655-2600 a.C.)

[A relação intelectual entre o Egito e a Grécia]

“As possibilidades das relações intelectuais entre o Egito e a Grécia é um fato histórico [...] São os próprios gregos que reivindicam para os egípcios a invenção da matemática, da astronomia, do direito, das instituições políticas, da medicina, da teologia, das artes plásticas, da sabedoria, da filosofia, dos jogos sociais. O entusiasmo dos gregos para com o saber do Vale do Nilo transformou-se até numa legenda: todos os sábios gregos ainda que não tinha isso até lá acreditavam na obrigação de passar algum tempo de estudo no país dos Faraós. Isso demonstra a força de atração que o Egito representava para os intelectuais gregos. [...] Antes dos seus contatos com os egípcios, os gregos não tinham praticamente não tinham contribuído em nada no antigo mundo Mediterrâneo. Trata-se de uma evidência histórica. [...] A Grécia deve ao Egito os seus primeiros filósofos. O pensamento egípcio exerceu uma certa influencia sobre o pensamento grego da mesma forma com hoje as ciências e as tecnologias norte-americanas dominam o mundo inteiro. Na antiguidade a supremacia cientifica do Egito não tinha equivalente na Grécia. Mas a escritura da história da humanidade segundo as temáticas indo-europeias exclusivas obscureceu voluntariamente os fatos que, no entanto são tão evidentes.” (Théophile Obenga. O Egito, a Grécia e a Escola de Alexandria).

Períodos da Filosofia Africana

1) Filosofia etíope e núbia caracterizada essencialmente por uma reflexão filosófica sobre grandes questões éticas
2) Filosofia egípcia faraônica, período em que se destacam quatro escolas: a Escola de Menfis, a Escola de Heliópolis a Escola de Hermópolis, a Escola de Tebes. Nesta escola se destacam grandes filósofos como Imhotep, Kagamnes, Merikare, Amenemhat, Amenhotep, Dualf, Anemope Akhenatem, que deixaram grandes sobras que influenciam o patrimônio filosófico atual.
3) Filosofia de Alexandria, de Cirene, de Cartago e de Hipona. Um dos mais famosos filósofos deste período é Santo Agostinho.
4) Filosofia Magrebina.
5) Filosofias das escolas medievais de Tombouctu.
6) Filosofia africana moderna e contemporânea.
 
Fonte: Revista de Filosofia. Editora Escala. São Paulo, Ano II, Nº14, páginas 58-59.