segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Morre aos 71 anos Wangari Maathai, a vencedora do prêmio Nobel de 2004

A queniana Wangari Maathai morreu por causa de um câncer. Foto: Reuters
A queniana Wangari Maathai morreu por causa de um câncer

A ativista queniana Wangari Maathai, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz 2004, morreu por causa de um câncer, anunciou nesta segunda-feira o movimento que ela fundou, o Movimento do Cinturão Verde (GBM, na sigla em inglês). Maathai morreu no domingo, aos 71 anos, no hospital de Nairóbi após uma valente e prolongada luta contra o câncer, acompanhada de parentes, informou o organismo em seu site. "A morte de Maathai é uma grande perda para todos os que a conheciam e para quem admirava sua determinação para fazer um mundo mais pacífico, mais saudável e um lugar melhor", acrescentou.
 
Formada e pós-graduada em Biologia nos Estados Unidos nos anos 60, ela também estudou na Alemanha e está entre as primeiras mulheres da África oriental que obtiveram um título de doutorado - em seu caso, em Anatomia Veterinária. Maathai, que tinha três filhos e uma neta, foi uma das primeiras mulheres de África Ocidental com uma cátedra universitária, com um doutorado em Biologia. Em 1977 fundou o Movimento Cinturão Verde, um dos programas de mais sucesso de proteção do meio ambiente, graças ao qual se plantaram no Quênia 20 milhões de árvores, sobretudo por mulheres.
 
Em 2004, quando o Comitê Nobel de Oslo anunciou a concessão do prêmio a Maathai destacou sua posição "à frente da luta para promover um desenvolvimento ecológico, que seja viável socialmente, economicamente e culturalmente, no Quênia e na África".
 
O organismo ressaltou que Maathai teve uma aproximação global ao desenvolvimento sustentável que "abraça a democracia, os direitos humanos e em particular os direitos da mulher".
 
O governo do Quênia reconheceu que a morte de Wangari é "uma grande perda para o país, para a África e para todo o planeta", já que fez com que "o mundo entendesse que a água, as árvores e a proteção do meio ambiente ajudam a alcançar a paz". "Seu trabalho e seu visão viverão nas milhões de pessoas que escutaram sua voz e se esforçaram para planejar e definir um futuro melhor para todos", afirmou em comunicado o diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Achim Steiner.

O arcebispo emérito Desmond Tutu, outro africano agraciado com o Prêmio Nobel da Paz, disse que Wangari foi "uma autêntica heroína africana" que compreendeu "o laço indissolúvel entre a pobreza, os direitos e a sustentabilidade meio ambiental".

Disponível em: http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias

sábado, 24 de setembro de 2011

Reconhecer a diversidade para mudar a sociedade. Entrevista especial com Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva

Com o objetivo de falar sobre o rosto africano, esteve na Unisinos na última semana a professora Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, da Universidade Federal de São Carlos. Na ocasião, ela concedeu pessoalmente a entrevista a seguir para a IHU On-Line, quando afirmou que “existem dificuldades de relação entre os grupos étnico-raciais decorrentes de uma visão segundo a qual a nossa sociedade seria monocultural ou preferencialmente de raiz europeia, quando nossa sociedade é notadamente de raiz indígena, dos povos originários e também africana”.
 
 

Para ela, “o país, como um todo, quer se ver única ou preferencialmente de raiz europeia. Esse é o problema central. Somos uma sociedade pluricultural, diversa e que cria um mito de que viveríamos todos tão harmonicamente que teríamos nos esquecido de nossas raízes. E esse mito funciona na medida em que as pessoas se convertem a um modo de ser que não é o seu próprio, sendo que essa conversão anula sua raiz básica”. E completa: “as pessoas costumavam dizer que o racismo no Rio Grande do Sul devia ser maior porque havia muita influência europeia, e eu, como eu sou gaúcha de Porto Alegre, sempre disse que é difícil medir isso. Mas desde as últimas manifestações que temos visto, começo a crer que quem vê de fora parece que vê melhor”.

Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva possui graduação em Português e Francês, mestrado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e doutorado em Ciências Humanas – Educação pela mesma universidade. Cursou especialização em Planejamento e Administração da Educação no Instituto Internacional de Planejamento da Unesco, em Paris. Realizou estágio de pós-doutorado em Teoria da Educação, na University of South Africa, em Pretoria, África do Sul. Por indicação do Movimento Negro, foi conselheira da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, mandato 2002-2006. Nesta condição foi relatora do Parecer CNE/CP 3/2004 que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Africana e participou da relatoria do Parecer CNE/CP 3/2005 relativo às Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia. Atualmente, é professora na Universidade Federal de São Carlos, em São Paulo.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Como a senhora descreve o rosto africano aqui no Brasil? O que o caracteriza?

Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva – A cor da pele, que todo mundo vê, de saída; a ancestralidade; a cultura e a história enraizada na África; o modo de ser e viver; e a religiosidade. É isso que caracteriza o rosto africano no Brasil e na América Latina.

IHU On-Line – Como a questão étnico-racial aparece na educação brasileira hoje?

Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva – Não sei se temos uma questão étnico-racial. Existem dificuldades de relação entre os grupos étnico-raciais decorrentes de uma visão segundo a qual a nossa sociedade seria monocultural ou preferencialmente de raiz europeia, quando nossa sociedade é notadamente de raiz indígena, dos povos originários e também africana. A metade da população brasileira, segundo mostra o Censo, é formada por pretos e pardos, ou seja, por pessoas majoritariamente de raiz africana. O país, como um todo, quer se ver única ou preferencialmente de raiz europeia. Esse é o problema central. Somos uma sociedade pluricultural, diversa e que cria um mito de que viveríamos todos tão harmonicamente que teríamos nos esquecido de nossas raízes. E esse mito funciona na medida em que as pessoas se convertem a um modo de ser que não é o seu próprio, sendo que essa conversão anula sua raiz básica. Nós, negros, temos uma raiz africana. Evidentemente, ela foi sendo recriada no Brasil, até nas condições de escravismo. Fomos um povo tratado não como pessoas, mas como objetos. Mesmo nessa situação, esse povo recriou suas raízes. O importante é que nesse contato, que infelizmente não foi nada cordial, muito pelo contrário, houve uma recriação, o que permitiu que fossem aprendendo uns com os outros. Mas isso não significa que deixamos de ser quem somos; a base, a raiz, não morre.

IHU On-Line – Qual a importância do Parecer que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana?

Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva – Diante dessa dificuldade de relações igualitárias entre negros e não negros era preciso que houvesse uma determinação legal. As leis são feitas justamente para corrigir distorções. Nesse sentido, é bastante significativo o início deste século. Durante todo o século XX o Movimento Negro brasileiro mostrou a importância de se conhecer a história e a cultura dos afro-brasileiros para que eles sejam respeitados como construtores dessa nação. Quando a lei10.639 [1] é aprovada, esse foi um ganho do Movimento Negro, e não uma concessão como alguns pensam. Em 2008, a lei 11.645 acrescenta a importância de se conhecer a história e a cultura dos povos indígenas. Quando se começou a formular este parecer no Conselho Nacional de Educação (eu era conselheira indicada pelo Movimento Negro), nós pensávamos na educação das relações étnico-raciais e sabíamos que chegaríamos à história e à cultura porque havia múltiplas experiências que deram condições para que se formulassem as diretrizes nos termos em que foram formuladas.


O Movimento Negro mostrava, ao longo do século XX, que, para que as pessoas convivam respeitosamente, elas devem conhecer umas às outras e devem conhecer a história e a cultura. Não podem conhecer somente a de um povo como sendo suas raízes. Uma das principais dificuldades de fazer tudo isso é porque conhecer essa história traz à tona muitas dores e talvez até muita culpa. Se para os filhos dos antigos negros escravizados é doloroso, também não deve ser fácil para os descendentes dos escravizadores ou traficantes. No entanto, as pessoas não devem se sentir culpadas pelo que seus antepassados fizeram, mas elas têm uma responsabilidade, que é a de corrigir o que foi feito. E, para isso, é preciso conhecer, respeitar e valorizar a história de cada um.

IHU On-Line – Como a lei está sendo implementada e qual a especificidade da região sul nesse cenário?

Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva – A dificuldade da implementação talvez advenha deste aspecto da dor e da culpa, da qual acabei de falar, ou pode vir da crença que alguns têm de que são superiores a outros. Isso exige outra mentalidade, outra maneira de as pessoas se relacionarem. Ao afirmar que é preciso estudar a história e a cultura afrobrasileira e africana, o Parecer e o fato de haver até uma lei sobre isso, significam o reconhecimento de que este é o povo menos valorizado nesse país. É uma política pública de reconhecimento da maior importância.

Sobre a especificidade na região, não tenho muitos dados. Mas o que temos visto é que, aqui na região sul, ocorrem manifestações explícitas de racismo mais cruéis do que em outras regiões. As pessoas costumavam dizer que o racismo no Rio Grande do Sul devia ser maior porque havia muita influência europeia, e eu, como eu sou gaúcha de Porto Alegre, sempre disse que é difícil medir isso. Mas desde as últimas manifestações que temos visto, começo a crer que quem vê de fora parece que vê melhor.

IHU On-Line – Quem é a mulher negra brasileira hoje? Quais suas marcas?

Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva – O que marca a mulher negra é a garra e a luta pela sobrevivência do seu povo. Ela mantém a raiz do período da escravidão e orgulho do pós-abolição.
IHU On-Line – Como a academia pode contribuir para o debate sobre a diversidade étnico-racial e o que a senhora pensa sobre as cotas para os negros nas universidades?
Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva – A academia deve, antes de mais nada, reconhecer que a sociedade é plural. A política de cotas e outras de ações afirmativas, quando são implantadas, mostram que a universidade adota uma política institucional. Pela primeira vez as universidades começam a adotar políticas que visam a uma equidade social. Elas se dão conta de que fazem parte da sociedade; não são algo separado ou um lugar em que algumas pessoas se isolariam para iluminar a sociedade. Não é isso. A própria universidade deve ser iluminada pela sociedade. A universidade não pode estar a serviço de um grupo.

IHU On-Line – Qual a contribuição da literatura brasileira para a construção da imagem em torno do negro no Brasil hoje?

Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva – Depende de quem escreve. Teve um debate interessante, porém doloroso, a partir do parecer do Conselho Nacional de Educação, que deu resposta a um pai, que fez uma denúncia do estudo que seu filho fazia do livro Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, na escola, e que tem palavras pejorativas e agressivas contra a personagem Tia Anastácia. Por que chamam as crianças negras de “negrinho-carvão”? As crianças leem Monteiro Lobato, que é autoridade por ser um grande escritor, então acham que podem chamar seu colega desta forma.

IHU On-Line – E Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre?

Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva – Esse é mais do que simplesmente um livro muito bem escrito. Ele serve de base para justificar o mito da democracia racial, de que vivemos todos harmoniosamente, somos felizes e nos amamos, quando não é isso, a tal ponto que nos esquecemos até quais são nossas raízes. Por isso a cultura europeia é a predominante. É essa luta por reconhecimento da diversidade que esperamos que mude a sociedade, que as pessoas vivam bem e não tenham que brigar pelo que lhes é de direito.
Nota:
[1] A lei n. 10.639, de 9 de janeiro de 2003, altera a lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional para incluir no currículo oficial das redes de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências.


JORNAL CONEXÃO AFRO Disponível em: http://revistaafricas.com.br/archives/27347

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

ONU reúne líderes para reafirmar o combate ao racismo nos 10 anos da Declaração de Durban

Brasília, 19 de setembro de 2011 – A Organização das Nações Unidas reúne, na próxima quinta-feira (22/9), em Nova York, líderes de todo o mundo para reforçar o compromisso dos países com o enfrentamento do racismo e da desigualdade racial. A reunião do 10º Aniversário da Declaração e do Plano de Ação de Durban foi convocada pela Assembleia Geral das Nações Unidas e ocorre no âmbito do Ano Internacional das e dos Afrodescendentes, declarado pelas Nações Unidas. Em 10 anos, esta será a terceira reunião de alto nível realizada pela Assembleia Geral.
A Declaração e o Programa de Ação de Durban são resultados da 3ª Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação, a Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, realizada em 2001, em Durban, África do Sul. Os documentos contribuem para o enfrentamento do racismo, que ainda viola os direitos humanos de milhões de mulheres, crianças, jovens e homens afrodescendentes no mundo inteiro.
Na quinta-feira (22/9), a reunião será inaugurada por Nassir Abdulaziz Al-Nasser, presidente do 66º período de Sessões da Assembleia Geral; Ban-Ki-moon, Secretário-Geral da ONU; Navy Pilay, Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, e Jacob Zuma, presidente da África do Sul. Na ocasião, haverá um momento para declarações dos Estados-Membros das Nações Unidas que estarão divididos em cinco grupos regionais: América Latina e Caribe, Ásia, Europa Ocidental e outros Estados, Europa Oriental e África.
Em seguida, das 11h às 18h, especialistas e membros da sociedade civil se organizarão em duas rodadas em torno do tema: “Vítimas do racismo, da discriminação racial, da xenofobia e das formas conexas de intolerância: reconhecimento, justiça e desenvolvimento”. Entre os que participam da atividade estão Edna Roland, do Grupo de Especialistas Eminentes sobre a Aplicação da Declaração e do Programa de Ação de Durban; Verene Shepherd, do Grupo de Especialistas sobre os Afrodescendentes; Anwar Kemal, presidente do Comitê para Eliminação da Discriminação Racial; Mohamed Siad Douale, presidente do Grupo de Trabalho Intergovernamental sobre a Implementação da Declaração e Programa de Ação; e Githu Muigai, ex-relator especial sobre Formas Contemporâneas de Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata.
A cerimônia de encerramento, prevista para as 18h, será composta por uma plenária quando será apresentada uma síntese dos debates. A expectativa é que a reunião tenha como resultado a adoção de uma declaração de caráter político capaz de impulsionar os países para a elaboração de novas ações com foco no enfrentamento ao racismo e a discriminação racial.
A reunião do 10º Aniversário da Declaração e do Plano de Ação de Durban será transmitida ao vivo pelo site: www.un.org/webcast

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Conferência de Durban: 10 anos depois

Durban – O Brasil tem o que dizer, 10 anos depois

 

A III Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e as Formas Conexas de Intolerância, ocorrida em Durban, África do Sul, de 31 de agosto a 9 de setembro de 2001, completa 10 anos. Mas as questões que demandaram sua realização ainda requerem a ação dos Estados para serem superadas.
Ministra Luiza Bairros

A III Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e as Formas Conexas de Intolerância, ocorrida em Durban, África do Sul, de 31 de agosto a 9 de setembro de 2001, completa 10 anos. Mas as questões que demandaram sua realização ainda requerem a ação dos Estados para serem superadas.

O recrudescimento das intolerâncias em várias partes do mundo deveria atrair a atenção para a Reunião de Alto Nível comemorativa do 10º aniversário da Declaração e Programa de Ação (D&PA) de Durban, que a ONU realiza neste 22 de setembro. Além das reportagens especiais para rememorar a tragédia do 11 de setembro, espera-se que a mídia avalie o que tem sido feito para eliminar o racismo e a discriminação racial.

Deve ser sempre lembrado que a participação brasileira na preparação da Conferência contra o Racismo foi um marco na mobilização das organizações negras. A riqueza das avaliações desencadeadas em todo o país beneficiou-se largamente do esforço das três décadas anteriores.

Da luta que tornara possíveis os avanços da Constituição, passando pelos protestos no centenário da Abolição, em 1988, e a Marcha Zumbi dos Palmares, em Brasília, em 1995, os movimentos negros lograram incluir a superação das desigualdades raciais na agenda política do país.

Em 2001, uma geração de ativistas alcançava a maturidade decorrente do empenho contínuo por cidadania plena e pela visibilização do racismo. As urgências de nossa situação interna motivaram a participação do Brasil naquela conferência, e asseguraram, na volta da África do Sul, os diálogos que, mais tarde, desembocaram nas políticas de ação afirmativa.

A ideia de um movimento negro “engolido” pelo Estado após esse processo seria, portanto, simplificadora de algo mais complexo, posto que não dá conta das múltiplas dimensões envolvidas nessa história recente e que a conferência inequivocamente aprofundou. A partir dela, os membros das Nações Unidas comprometeram-se a fazer do combate ao racismo responsabilidade primária do Estado.

Dez anos se passaram. Diferentemente de muitos países que ainda tentam boicotar a D&PA de Durban, as organizações da sociedade civil e o governo do Brasil terão o que dizer na Reunião de Alto Nível.

Vale destacar que o racismo é crime desde o texto constitucional de 1988. Ademais, o Estatuto da Igualdade Racial, aprovado no ano passado, orientou o Plano Plurianual 2012-2015, que inclui o enfrentamento ao racismo como um de seus programas mais inovadores. O que se faz agora é uma ampla pactuação ministerial para aprofundar a implementação do Estatuto e regulamentar o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir), de modo a integrar as ações nas esferas federal, estadual e municipal.

No momento, é necessário assegurar práticas educativas que possam abarcar tanto a escola como os meios de comunicação. Desde a creche, cujo acesso a presidente Dilma Rousseff quer universalizar, urge disseminar valores do pluralismo, alargando a noção do humano entre nós. Isso equivale a reverter representações desumanizadoras que atravessam nossa cultura desde o período colonial e estão na base das desvantagens sociais de negros e indígenas.

O autor de recente chacina na Noruega, Anders Breivik, afirmou a impossibilidade de progresso no Brasil dada a composição étnico-racial da população. Velhas ideias de superioridade racial que encontram novos adeptos, aqui e no exterior. Por essa visão, os obstáculos ao desenvolvimento residiriam no interior das pessoas, em sua presumida inferioridade e não em razões objetivas e externas a elas.

Por isso, há quem acredite que os espaços abertos pelo crescimento da economia brasileira não deveriam ser ocupados por “canavieiros, donas de casa e sacoleiros”. A sugestão recorrente seria a substituição do trabalhador brasileiro, tido como desqualificado, pela mão de obra “altamente especializada”. E, se não há tempo suficiente, ou a educação nada pode fazer nesses casos, os trabalhadores ideais só poderiam ser buscados em outros países.

Essa visão, contrária ao rumo buscado pelas iniciativas de erradicação da pobreza extrema e de expansão do acesso à educação técnica e superior, opõe-se também à declaração e ao programa de ação de Durban, que reforçam o direito de todos de participar, sem discriminação, da vida social e política do seu país.

Luiza Bairros é ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República e conselheira do CDES.
Publicado no Correio Braziliense
Fonte: CDES

Quilombo dos Luízes consegue a suspensão da construção de prédio em suas terras


O quilombo dos Luízes (Belo Horizonte/MG), comemora a suspensão (ainda que temporária) do Alvará de funcionamento expedido pela prefeitura de Belo Horizonte, que assegurava a construtora Novolar do grupo Patrimar, a construção de um edificio em terras pleiteadas pelo quilombo através de processo que se encontra em andamento no INCRA.

A ação eficiente da Defensoria Pública de MG, assegurou a possibilidade de nos mantermos na luta pela reintegração da propriedade, que historicamente faz parte de nossos domínios territoriais.

Como parte dessas ações, no dia 15 de setembro, ás 9:30h, ocorrerá uma Audiencia Pública na Câmara Municipal de Belo Horizonte, no plenário Camil Caram, na Avenida dos Andradas, 3.100, Bairro Santa Efigenia, que terá como finalidade discutir a situação da especulação imobiliária que atinge o quilombo.


Para conhecer o quilombo dos Luízes acesse:

Angolana Leila Lopes é eleita Miss Universo

Negra, Miss Universo 2011 diz que racismo não a atinge

FAMOSIDADES
Bruno Zanardo/ Fotoarena/ Divulgação

O Brasil foi palco da celebração da diversidade na noite dessa segunda-feira (12). O concurso Miss Universo 2011 elegeu a angolana Leila Lopes como a mais bela mulher do mundo. A jovem de 25 anos alcançou o primeiro lugar na disputada competição, ficando o segundo e terceiro lugares para as candidatas da Brasil e Ucrânia, respectivamente. A vitória foi bastante comemorada nas redes sociais, rendendo a segunda posição dos assuntos mais comentados do Twitter.

A angolana conquistou simpatia e torcida até mesmo dos brasileiros. Em uma das perguntas, a modelo foi questionada sobre o que mudaria no seu corpo e mostrou ter compromisso social ao reforçar a importância do respeito ao próximo. “Não mudaria em nada. Me considero uma menina bonita por dentro, tenho os meus princípios, os meus valores. Eu sinto que fui bem educada e quero ser assim a vida toda. E agora eu aproveito para deixar um conselho aos presentes: respeitem os outros". Leila Lopes esteve no programa do Jô Soares no mês de março deste ano.

A vitória da carismática Leila Lopes foi ainda mais comemorada pela comunidade negra brasileira, sobretudo pelo fato dos jornais terem noticiado na semana passada uma série de ataques racistas por grupos neonazistas brasileiros às candidatas negras do concurso. Em um dos blogs, segundo o site G1, os jovens postaram a seguinte declaração "Como alguém consegue achar uma preta bonita?"