segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Gentileza gera gentileza

A reflexão sobre a gentileza nos leva a pensar sobre a forma como estão se dando as relações entre as pessoas no mundo contemporâneo. Uma das marcas da nossa sociedade tem sido a degradação das relações entre as pessoas nas famílias, nas escolas, nas empresas, no trânsito, com o meio-ambiente e em outros espaços. É com este pano de fundo que trataremos da questão da gentileza.

Primeiro é preciso entender a gentileza como uma qualidade de ser gentil. A palavra gentil, do latim gentile, indica a nobreza e a generosidade que deve predominar no trato com os outros no nosso dia-a-dia e, portanto, vista como uma condição de ser e estar-no-mundo.

A gentileza é uma característica relacionada com caráter, valores e ética. Tratamos a gentileza no campo da ética e, mais especificamente, como uma virtude. Virtude, em sentido ético, é uma qualidade do indivíduo que faz com que este haja de forma a fazer o bem para si e para outros. Deste modo, para se tornar uma pessoa gentil é preciso que cada um reflita sobre o modo como vem se relacionando consigo mesmo, com as outras pessoas, com o mundo e com a natureza.

Devemos ver a gentileza como algo mais sofisticado e profundo do quer ser educado, ou do mero cumprimento das regras de etiqueta, embora devemos ser sempre educados. Enquanto uma virtude podemos também entendemos a gentileza como disposição para o bem. Assim, qual o bem que quero para mim mesmo e para os outros?

A gentileza é uma lente através da qual podemos ver o mundo e uma forma de nos situarmos neste mundo, assim, precisamos pensar no como está a nossa relação como os outros. Neste sentido, você cumprimenta sempre os outros, pede desculpas, reconhece os seus erros, respeita as pessoas, é solidário e companheiro, sabe escutar, pensa positivamente e procura se colocar no lugar do outro? Pensemos no quanto a prática da gentileza, do ser gentil, pode abrir as portas, mudar o rumo dos conflitos, facilitar negociações, transformar humores, melhorar as relações, trazendo muitas vantagens tanto na vida de quem é gentil quanto na de quem recebe gentilezas.

Mais concretamente vejamos o caso da empresas, que hoje têm contratado profissionais que sabem solucionar problemas e favorecer as conciliações, portanto, muito mais que a competência técnica, recebida nas escolas e nas universidades, as habilidades humanas como a gentileza, ainda escassas entre nós, é muito bem quista e procurada na atualidade.

Platão considerava a virtude como uma qualidade que o indivíduo trazia consigo e que, portanto, não podia ser ensinada. Já Aristóteles, afirmava que a virtude podia ser adquirida, pois era na realidade o resultado de um hábito. Hábito que se configura como uma disposição prática, duradoura e constante de uma ação, de um ato. Seguindo esta perspectiva de pensamento, entendemos que a gentileza tão necessária no mundo contemporâneo, é algo que podemos e devemos adquirir via o processo educativo. A aquisição e a prática da gentileza com algo cotidiano contribuirá para a humanização e facilitará as nossas relações nas famílias, nas escolas, nas igrejas e no trabalho.

Em tempos de questões ambientais, o que a gentileza, ao não jogar o papel de bala no chão, o manejo racional das florestas e recursos minerais, a não poluição das águas, o uso de energia limpa e tantas outras ações gentis, nobres e generosas para com o nosso planeta, contribuirá para uma maior responsabilidade para com as gerações do presente e as futuras.

Por fim, todos nós clamamos por um mundo melhor, por qualidade de vida e pelo desenvolvimento sustentável, em suma, por uma vida feliz. Mas como chegar ao que desejamos e queremos sem termos a gentileza como um critério e uma qualidade necessária para o nosso bem e o bem de todos. Imaginemos qual seria o ranking das nações se a gentileza, e não apenas os critérios econômicos e sociais fosse tomada como um dos critérios para a avaliação do índice de desenvolvimento humano?

João Carlos Pio de Souza

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